quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

MARIA LUISA CECIARELLI

 


(Aos 90 anos e depois de uma longa doença degenerativa que a retirou para a mais rigorosa privacidade, e ainda bem porque ninguém suportaria o envelhecimento anómalo de Monica Vitti, a diva italiana de Antonioni deixou-nos e com ela uma poderosa companhia da nossa iniciação aquele cinema que nos bateu forte e ao qual os nossos olhos e sentidos não estavam de modo nenhum habituados. A trilogia da Incomunicabilidade, A Aventura, A Noite e O Eclipse e o devastador Deserto Vermelho trouxeram-nos a mão do mestre e também da Mulher que personificava todas aquelas novas tendências de uma modernidade cinematográfica, antecipando o que iriam ser as grandes interrogações dos anos 60 e 70 em matéria de Ser e Estar num mundo em profunda transformação.

É certo que Monica Vitti mudou de registo com os seus trabalhos com Mario Monicelli, Ettore Scola e Alberto Sordi, descobrindo uma faceta cómica nos seus papéis, e a companhia destes três realizadores era só por si uma segurança de que não perderia nesse novo registo. E não perdeu, antes pelo contrário.

Mas dissociá-la dos trabalhos de Antonioni e da novidade daquele cinema de então é quase uma traição aquela surpresa que aqueles registos nos despertaram e que me levaram então a ser um leitor compulsivo de revistas como os Cahiers du Cinéma e a Positif para melhor compreender aquela linguagem cinematográfica, continuada depois com a força do Movimento da Nouvelle Vague. Vitti defendeu as reivindicações daquele movimento em 1968, quando se demitiu do júri de Cannes em solidariedade para com o mesmo.

Maria Luisa certamente para os mais próximos, Monica para os cinéfilos, nunca talvez o rosto de uma Mulher identificou tanto a novidade de uma linguagem do cinema, reafirmando o princípio de que entre uma câmara, quem realiza, quem assina a fotografia e o rosto de uma Mulher se desenvolve um dos mais mistérios do Cinema, demonstrando que a Câmara é uma forma de Amar.

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