(Nestas coisas de sucessão, neste caso de liderança de partidos políticos, a política não dispõe, nem por sombras, de condições como a monarquia apresenta. A sucessão partidária é tumultuosa, praticamente não é preparada de modo organizado e coerente, e quando se trata ainda por cima de um partido no poder como o PS, o contexto ainda é mais frágil. Vários cenários foram colocados ao longo do tempo, mas tudo estava previsto para se ir consumando em simultâneo com o exercício do poder. Mas a política é cada vez mais voraz e destrutiva. Pedro Nuno Santos teve de sair do poder pela porta de trás, com aquela bravata do aeroporto, que se percebe agora ter sido fruto de um estado de alma e de incontinência decisória que desautorizou o Primeiro-Ministro na sua decisão de envolver o PSD. António Costa foi, por sua vez, pondo-se a jeito e em resultado de um Ministério Público, que rezam alguns jornais de hoje, está atordoado e a não saber o que fazer, forçado à demissão e a abandonar, sabe-se lá durante quanto tempo, quaisquer projetos de continuidade e sobrevivência políticas. Teremos por estas vias sinuosas uma sucessão de sopetão, estimo que sem qualquer tempo anterior de discussão de ideias no interior do partido. Uma sucessão que enfrenta um desafio mais geral, o de tentar salvar o coiro do partido, abalado por tudo isto, depois de vários exemplos de sobranceria e de pratos de lentilhas servidos frios. Vários candidatos a senhores disto tudo têm ido na enxurrada, de escala um pouco patética como o agora condenado, não em última instância, diga-se, Presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia que, depois de chamuscado por um vice-presidente que gostava de relógios, foi agora apanhado pelo uso de viatura municipal, como isto é tudo tão pequenino. Como desta vez penso que não haverá primárias alargadas, os militantes do PS terão em simultâneo de pensar nas prendas de Natal e contar espingardas para eleger quem melhor poderá salvar o coiro do partido. O tema certamente abrirá certamente múltiplas oportunidades de posts futuros, mas convém começar a fazer os trabalhos de casa.
Numa leitura demasiado simplista do combate Pedro Nuno Santos – José Luís Carneiro poderíamos talvez dizer que teremos uma luta remota e não direta entre ambientes mais próximos da Maçonaria ou da Opus, mas tal como o meu colega de blogue perspicazmente já o assinalou, as diferenças começaram a complicar-se por via dos apoiantes. Assim como acho que Alexandra Leitão muito antes da sucessão se ter precipitado deu nota que circulava pelas bandas da influência de PNS (está por explicar, entretanto, a sua não entrada para o Governo) e, por isso não constituir para mim surpresa, já o apoio desde a primeira hora de Francisco Assis a PNS vem baralhar as minhas contas e sobretudo a minha interpretação do combate que se vai travar. Há dias, em conversa que não posso revelar, alguém com experiência governativa me revelava que a Alexandra Leitão em termos de capacidade de decisão e concretização políticas deixa bastante a desejar, o que me surpreendeu e contrariou toda a minha boa impressão a propósito da destemida deputada. Não tenho racional que me justifique o apoio de Assis a PNS e, por isso, lateralmente, essa será uma das minhas grandes interrogações em todo este processo.
Julgo que da parte de José Luís Carneiro (JLC) não assistiremos a qualquer inflexão de pensamento em relação ao que dele é conhecido, desde o seu apoio a Seguro até ocupar um Ministério-chave depois do desastre que foi Eduardo Cabrita. JLC terá contra si não ser querido das hostes comunicacionais lisboetas, de esquerda ou direita não interessa, como lapidarmente Daniel Oliveira o retratou como insosso e insinuando que alguém era necessário para estender a vitória a PNS. Já deste último, iremos, estou certo, assistir a verdadeiras acrobacias ideológicas para tentar ocultar temporariamente o fogo das suas convicções. O meu colega de blogue chamou-lhe “processo de moderação em curso” e também está bem. Eu gosto mais de acrobacias pois está mais de acordo com a impetuosidade do tribuno. Mas eu acho que PNS se engana redondamente. A haver uma fragilidade, ela não se corrige por acrobacias ou votos de moderação. É que eu penso que a principal vulnerabilidade de PNS é a sua imaturidade que nem o seu vozeirão consegue ocultar. A moderação em curso procura mitigar a velha ideia que circula entre muita gente pensante em Portugal que alguém demasiado radical não consegue conquistar as rédeas d poder em Portugal. E o que se depreende destes últimos dias é que PNS internalizou bem essa ideia e procura a toda a brida apresentar-se como um não radical. Penso que se engana. O seu principal ponto fraco é a sua imaturidade política, mesmo que conte mais espingardas do que JLC. E isso francamente não sei se a Alexandra Leitão conseguirá mitigar com a preparação da moção.
E já agora aceitam-se alvíssaras para explicar o apoio de Assis a PNS. Será que há aqui jogos de sombras que nos passam ao lado?
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