(Na minha vida diária profissional é raríssimo almoçar ou jantar fora. Mesmo nos dias em que trabalho no escritório almoço quase religiosamente em casa e só muito raramente, quase sempre por conveniência de logística caseira, escolho na vastíssima variedade da restauração em Matosinhos a oferta que me permita um almoço agradável, na qualidade de consultor lobo solitário. Não será certamente com esta idade que me apanharão numa catadupa de almoços comerciais, até porque a minha atividade não se compadece muito com esse tipo de angariação. O meu trabalho é conhecido ou não, apreciado ou nem tanto e, por isso, posso dar-me ao luxo de não ter necessidade dessa proatividade. Há outras formas de o fazer e nessa medida colaboro com a empresa para o tornar possível. Por isso, como hoje, me cabe almoçar sozinho, não me inibo de comer bem, mas pouco e posso dar-me ao luxo de não olhar muito para a fatura final que é preciso pagar. Afinal, contam-se pelos dedos essas idas ao restaurante e nessa medida acho que para o que ainda trabalho e ao ritmo a que o faço mereço essa compensação de lobo solitário.)
Hoje, num restaurante pequeno e acolhedor que recomendo, o Toupeirinho, mesmo em frente à entrada para o terminal de cruzeiros, quando preparava o pagamento e olhava para o referido montante não pude deixar de me lembrar de um tweet destes últimos dias de Luís Paixão Martins, um personagem que propriamente não me entusiasma, mas que vale a pena de tempos em tempos seguir.
O tweet tinha a seguinte formulação:
“O que me custa a compreender é existirem pessoas, algumas inteligentes e qualificadas, que, apesar destes exemplos, querem ir para um governo”.
O tweet era acompanhado de uma transcrição, estimo que de uma escuta qualquer e que rezava assim:
“E1. Almoços em fevereiro de 2022
103. No dia 21 de fevereiro de 2022, os arguidos Afonso Salema e Rui Oliveira Neves almoçaram com o arguido João Galamba no “Bairro Alto Hotel Restaurante” em Lisboa. Cfr. Sessões 61237 e 61245 do alvo 114404060 (João Galamba) e 89099 do alvo 113613040 (Rui Neves).
104. No final, o valor devido pela totalidade das refeições consumidas ascendeu a 100, 28 euros, que corresponde a uma média de 33,426 euros por pessoa.”
Quando regularizava a fatura do almoço de lobo solitário de hoje, veio-me à cabeça um sentimento incontido de liberdade por fazê-lo sozinho e no exercício de funções privadas e às minhas custas.
Depois não digam que isto não está insuportável e que uma refeição de 33 euros é suspeita. Não se queixem que o recrutamento para a política está difícil.
A propósito, a importância que paguei era ligeiramente superior a 33 euros.
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