terça-feira, 21 de novembro de 2023

MILEI ENQUANTO ILUSTRAÇÃO

 
(Martin Elfmann, https://elpais.com)

O tema já aqui foi abordado, e bem, pelo colega que partilha comigo este espaço de reflexão. Mas a sua relevância ilustrativa das tenebrosas tendências que o mundo de hoje vai desenhando é de tal monta que justifica uma menção e algumas notas complementares. São três os pontos que não queria deixar por tocar: (i) o de um resultado aparentemente espantoso saído das presidenciais argentinas, algo que talvez não surja como tão surpreendente para quem conheça um pouco da história e do presente dominante naquela realidade económica e social (sem prejuízo do lado profundamente chocante das declarações e propostas do vencedor Javier Milei e do facto de um país de peso internacional reconhecido a elas se ter vergado ― mas não tivemos já a Itália e não estamos à bica de ter a França? ―, mais por desespero vivencial, que vem atingindo de modo crescente e sério a classe média, do que por adesão ideológica a uma extrema-direita cujos malefícios o país experimentou até há não muito tempo ou a um despolitização apalhaçada que algo erroneamente vai sendo associada a populismos, nacionalismos e outros ismos); (ii) o de que os números eleitorais não são tudo na leitura do que vai ocorrer proximamente na Argentina, designadamente porque o “louco” presidente eleito não irá dispor de condições democráticas para implementar efetivamente boa parte das suas promessas; (iii) o de que, até pela razão acabada de sublinhar, o pior de Milei decorre de ele representar preferencialmente mais um sinal dos tempos que aí estão a emergir com inconcebível força e uma visivelmente escassa capacidade de resistência democrática, com a persistência do “trumpismo” a fazer rebentar todas as escalas de perigosidade possíveis de selecionar como definidoras de caminhos tão inseguros e incertos quanto medonhos e aterradores.


(Agustin Sciammarella, https://elpais.com)

(Pierre Kroll, http://www.lesoir.be)

 

Uma nota final para que não passe em claro que o radicalismo tem caras improváveis e de razão desconhecida. Até por cá! Refiro-me à saudação que um alto responsável do “Iniciativa Liberal” dirigiu à vitória de Milei, uma manifestação descabelada de ortodoxia que apenas serve para evidenciar o indesculpável grau de maturidade cívico-política que domina a direção de um partido que tão bem sabe exprimir as suas distâncias em relação ao “Chega” (quem não aplaudiu a prestação de Cotrim de Figueiredo no último “Expresso da Meia-Noite”?) e tanto deste se aproxima em momentos que deveriam ser verdadeiramente afirmadores de diferença e de um ideário que exigiria e mereceria bem mais rigor na proclamação e defesa de valores.

Sem comentários:

Enviar um comentário