quarta-feira, 15 de novembro de 2023

O PROCESSO DE MODERAÇÃO EM CURSO

(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt) 

A meu ver, chega tarde e a más horas o “Processo de Moderação em Curso” (PMC) a que hoje alude um dos bons podcasts do “Público” (o Soundbite, com assinatura de Ana Sá Lopes, Helena Pereira e Ruben Martins). No que estritamente me toca, aqui reconheço a simpatia que cheguei a nutrir, num passado não muito longínquo, pela coragem afrontativa, pela energia geracional e pela vontade concretizadora (para não falar de carisma, um conceito cada vez mais duvidoso ou, pelo menos, dúbio) de Pedro Nuno Santos (PNS). Mas a evolução dos factos e dos acontecimentos têm-me criado uma atitude afastativa em relação a um político que foi dando mostras de escassa credibilidade em termos de robustez de convicções e de excessiva adaptabilidade em termos de princípios e escolhas.

 

Como ontem um comentador perguntava na antena de uma rádio, “afinal quantos PNS há na realidade?” (ou, dito de outra maneira, as opções e as propostas do dito são resultado de conhecimento, estudo e ponderação ou meros instrumentos ao serviço de um objetivo maior de conquista do poder?). A sua alocução de candidatura, num cenário que muito impressionou a maioria dos analistas mas que na verdade escondeu sobretudo uma correlação de forças indefinida e uma certa fragilidade de apoios, foi bem a prova da razão de ser daquela interrogação de fundo que afinal alimenta a minha leitura individualizada, e para uso próprio, sobre quão infelizes poderão acabar por ser os caminhos da sucessão de Costa. E, mesmo sabendo que as opiniões de José Miguel Júdice e de Maria João Avillez são tudo menos desinteressadas (ou, talvez melhor, eleitoralmente neutras), valeu bem a pena ouvir e perceber ontem o sentido das respetivas argumentações sobre a matéria (penetrantes na opinião pública e claramente mais rigorosas do que tendenciosas), entre o epíteto de “trapalhão sedutor” proveniente do primeiro e o “valha-me Deus” com que a segunda sentenciou (com o acompanhamento dos inúmeros e diversos incidentes que PNS lamentavelmente protagonizou nos últimos anos) uma eventual liderança do País por parte do chamado “jovem turco do PS”.

 

Mas há mais coisas que me assaltam a cabeça quando observo o que atualmente atravessa a desorientação que impera no PS. Uma delas é a de não perceber de todo o que pode justificar a aproximação contranatura entre o negociador executivo e grande defensor da “geringonça” como solução para o País e um militante dito moderado e que se recusou a ser parte cúmplice dessa solução (com todas as consequências que de tal decorreram em termos da sua marginalização partidária). A outra é a de compreender mal aquilo que me parece uma contradição entre o rigor e a habitual seriedade analítica de Alexandra Leitão e o modo grosseiro como se posiciona quando se refere às motivações subjacentes à sua aproximação a PNS (de quem vai ser relatora de moção), a ponto de recorrer à irrepetível estabilidade da “geringonça” como um argumento de futuro ou aos maquilhados lucros conjunturais da TAP como algo de sustentável e duradouro. As minhas elucubrações não acabam por aqui, mas prefiro maturá-las antes de as explorar mais detalhadamente, sobretudo na medida em que a alternativa socialista a PNS tem os méritos pessoais que se lhe vão reconhecendo mas ainda pouco deixou antever quanto à hipótese que Júdice ontem caraterizava (a síntese é minha!) como a do bem fundado de uma preferência dos eleitores (internos e nacionais) por um “maçador” com a cabeça suficientemente arrumada pelo bom senso, com boa capacidade de ouvir e dotado de sentido de Estado do que por um agitador/fazedor capaz de arrastar multidões sem uma noção cabal das restrições do enquadramento, do peso das consequências e da determinante importância de atender idoneamente às exigentes prioridades do País.

Sem comentários:

Enviar um comentário