(A guerra entre Israel e o Hamas, com a consequente agudização da questão e sobrevivência palestinianas provocada pela destruição de grandes partes do tecido residencial de Gaza e sério agravamento da opressão exercida pelos colonos israelitas na Cijordânia sobre os palestinianos, tem sido fonte de clivagens de posicionamento entre forças e personalidades políticas. Não estou aqui a incluir posicionamentos do tipo que envolvem a desculpabilização e branqueamento da violência terrorista do Hamas. Estou a referir-me apenas à clivagem existente entre os que defendem Israel a todo o preço e os que ousam criticar a sua postura de impunidade que o apoio dos EUA lhe garante. Nos últimos tempos, ancorado na acusação de branqueamento do terrorismo do Hamas, Israel tem produzido alguns mimos de desaforo diplomático, vindos sobretudo de Nethanyau e do seu inenarrável Ministro dos Negócios Estrangeiros, com foco em personalidades como o Secretário-Geral das Nações Unidas António Guterres, Pedro Sánchez, Primeiro-Ministro recém-empossado de Espanha, o Primeiro-Ministro da Bélgica, Alexander de Croo que o acompanhou na visita do Conselho Europeu a Telavive e o próprio Primeiro-Ministro da Irlanda Varadkar. Se quisermos ser rigorosos, tais mimos israelitas foram a consequência das diferentes personalidades se terem pronunciado a favor da cessação da violência e a necessidade de reconhecer de pleno direito o estado da Palestina, no âmbito da famigerada tese dos dois Estados. )
Não encontrei evidência de que os Primeiros-Ministros da Bélgica e da Irlanda tivessem tido à perna as respetivas oposições pelas tomadas de posição sensatas que assumiram, o primeiro acompanhando Sánchez a Israel e o segundo num pronunciamento político citando a parábola política do Filho Pródigo a propósito da libertação pelo Hamas da jovem irlandeso-israelita Emily Hand. Mas, em ambos os casos, a reação diplomática de Israel, como já o fora com Guterres, foi tão desproporcionada como o foi o número de mortes em Gaza na sequência da ofensiva israelita.
Pelo contrário, a reação da oposição espanhola, com ecos por cá de personalidades como o desamparado e órfão da compreensão do PSD Nuno Melo, foi de antologia, contrariando aliás o próprio programa do PP que nele inscreve o fim do conflito Israel-Palestiniano e a tese dos dois Estados. Claro que a situação política espanhola tem sal que baste para justificar todo este alarido, pois a generalidade das forças regionalistas independentistas que apoiam parlamentarmente o novo governo de Sánchez não morrem de amores pela causa de Israel. Isso bastou para que as tomadas de posição de Sánchez em Israel fossem consideradas uma traição aos superiores interesses de Espanha e da União Europeia e uma cedência ao radicalismo de quem o apoio no Congresso de Deputados.
O que significa que no conflito israelo-palestiniano, já não bastava o sofrimento generalizado que ele está devastadoramente a provocar e temos agora uma nova clivagem ideológica, estúpida e com a qual me recuso a ter qualquer cedência. Essa ideia de que criticar a desproporção da violência de Israel em Gaza e sobretudo a repressão incrementada que Israel tem permitido na Cijordânia equivale a estar do lado do Hamas é uma descarada armadilha que só mentes limitadas como a de alguns políticos da direita portuguesa podem protagonizar.
Pela minha parte rejeito-a em absoluto e não tenho qualquer receio em expressá-lo e não me venham com conveniências diplomáticas.
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