quinta-feira, 23 de novembro de 2023

O ESFORÇADO MICHEL

 

No grande quadro europeu, crescem as movimentações orientadas pelos lugares em disputa no próximo ciclo de mandatos institucionais (Conselho, Comissão e Parlamento, nomeadamente, sem prejuízo de na distribuição a fazer também se ter de tomar em conta a liderança da NATO). As mais visíveis, e por vezes caricatas, são as que relevam do desamor que foi forjado entre Ursula von der Leyen e Charles Michel, com este a sempre procurar ir dando provas de vida (em que insiste, insiste, como se observa nas suas permanentes tentativas de ir marcando cartas sobre o futuro da Europa e como se voltou a observar na recente visita que fez à Ucrânia); o que a sua já de há muito clara morte política afasta de qualquer possibilidade. Mas se Michel é quase patético nos seus esforços, Ursula não deixa igualmente de se mostrar exagerada, no modo aguerrido (e algo incompreensível) como assumiu para si um pretenso comando dos destinos geopolíticos e estratégicos da União (e lá foi ela novamente ao Médio Oriente, perorando sem baias nem rede percetível em encontros ao mais alto nível local que promoveu no Egito ou na Jordânia); sendo que a senhora alemã lá terá as suas razões e, sobretudo, as suas proteções (espera-se, para seu próprio bem!) no seio dos Estados membros que contam para o resultado (com o eixo franco-alemão à cabeça, apesar de tudo o que o vai condicionando). Sabe-se ainda que há outra gente atenta e à espreita (Thierry Breton gostava muito e é francês e amigo de Macron, mas é liberal; Nicolas Schmit poderá ter ganho espaço socialista com o aparente afastamento de Costa e Sánchez; Mark Rutte estará na fila para qualquer coisa, mais provavelmente a NATO se Ursula não acabar por ser chutada para tal missão; Roberta Metsola também não para de se mostrar mas tem o inconcebível Manfred Weber à ilharga e sempre pronto a explorar a hipótese de a substituir em segunda escolha; etc. etc. etc.); isto dito, tudo indica que é cedo para as grandes decisões, as quais ficarão guardadas para um pouco mais lá para a frente, em função de dados factuais e de correlações de forças previsíveis que ainda não emergiram em toda a sua plenitude. Assim, e por ora, só nos resta ir ficando atentos aos sinais que as manobras de bastidores deixarem revelar.


(Pierre Kroll, http://www.lesoir.be)

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