terça-feira, 21 de novembro de 2023

A SAGA REAL APROXIMA-SE DO FIM

 


(Atendendo ao destaque que lhe dei em posts anteriores, centrados nas sucessivas temporadas da The Crown, impõe-se talvez uma última referência, agora que a sexta e última temporada se aproxima do fim. Agora que Carlos reina com Camila a seu lado, que a memória poderosa da Rainha se vai esbatendo depois do clímax da sua morte, que o próprio mito de Diana vai perdendo naturalmente força e que o próprio Mohamed Al-Fayed também já nos deixou, havia alguma curiosidade como é que a série iria abordar os acontecimentos trágicos que conduziram ao desastre brutal em Paris e à morte de Diana. O que para mim tem sido mais curioso é a perspetiva da luta abnegada dos especialistas de comunicação de Carlos e da própria família real em tentar mitigar a borbulha mediática que o comportamento errático de Diana, já divorciada, um ano antes da sua morte estava a despertar, sobretudo a partir do momento em que começou a flirtar no Mediterrâneo e não só com o inconsequente Dodi Al-Fayed. A célebre fotografia de Diana e Dodi, em pleno iate, captada pelo paparazzi italiano Mario Brenna, que abre este post, acaba por ser o acontecimento real que faz disparar toda a borbulha mediática até ao clímax final da perseguição e desastre em Paris. A série ficciona uma intervenção direta de Mohamed Al-Fayed no recrutamento de Brenna, sugerindo por isso que foi essa fonte que deu a localização exata do iate em que Diana veraneava. Tudo indica que se trata de pura ficção e que o mais provável terá sido a experiência do local de Brenna que ditou por certo a descoberta da localização exata do iate ou que possa ter havido alguma fuga de informação vinda dos próprios Al-Fayed, não propriamente do magnata mas dos seus colaboradores.)

 

A série realiza algum esforço de trabalhar a própria personagem de Diana, em busca permanente de atenção e de alguma paz e, nessa perspetiva, o acosso fotográfico de que a Princesa é alvo, chega por vezes a incomodar o espectador, tamanha é a intensidade com que ela se manifesta e avassalador o ritmo com que se processa. Mas o trabalho da própria mente e pensamento de Diana é muito superficial e nessa medida é mais conseguida a visão da imaturidade de Dodi. Não visualizei ainda os episódios em que a Rainha intervém, depois da morte de Diana, que foram como se sabe o período mais problemático para a coroa britânica, incapaz de perceber o conto de fadas com madrinhas más em que o ambiente de Diana se tinha convertido.

Percebe-se como é que a série se deve ter transformado numa espécie de repetição incessante dos pesadelos que terão atormentado as noites da Rainha, família mais próxima e colaboradores.

O que levanta a séria questão de saber se o desenvolvimento de ficção com as matérias de facto ainda a queimarem a memória recente é legítimo e vantajoso. Compreendo essa questão. Mas talvez por isso, ou seja, pela coragem que revela em enfrentar uma realidade ainda tão recente, achei e continuo a achar que é uma série que vale a pena visualizar.

Se no futuro, à medida que a distância aos factos se esbater, essa avaliação irá manter-se é uma outra questão. Outros o dirão.

 

 

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