segunda-feira, 27 de novembro de 2023

DEPOIS NÃO SE QUEIXEM!

 
(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt) 

Após um curto break, volto à política portuguesa. Essencialmente para aqui lavrar um novo e certamente inútil protesto junto dos responsáveis das campanhas que vão sendo levadas a cabo pelos grandes partidos nacionais (PS, numa espécie de primárias muito focadas no combate a seguir, e PSD, já preparando o dia decisivo).

 

Com efeito, este fim de semana foi elucidativo quanto ao que vêm os três candidatos em causa, Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro do lado socialista e Luís Montenegro do lado social-democrata. Começando por este, dois registos merecem especial nota: a transformação de um congresso estatutário no arranque da mobilização partidária para o que aí vem, com o líder a abusar da palavra (entre o “gonçalvismo” do “camarada Pedro” e a “Cinderela Mortágua”), Moedas a mostrar-se caricatamente radical contra o “socialismo”, Cavaco a surgir do Além para dar um sinal de apoio (que se exprimiu principalmente, e muito à sua boa maneira de figura suprema e autocentrada, na razão premonitória com que já vaticinara a demissão do primeiro-ministro em maio) após décadas de ausência em congresso e, por fim, os congressistas em êxtase no seu salivar pela hipótese de um poder ao alcance. Salvou-se o esforço propositivo de Montenegro, muito marcado por uma tentativa de afastar o fantasma criado pelo passismo junto dos pensionistas, pese embora o elemento (válido para este caso ou para o dos socialistas) que a editorialista de hoje do “Público” (Marta Moitinho Oliveira) sublinha, com inteira razão, estar em falta e nos seguintes e apropriados termos: “venham de lá essas contas dos programas eleitorais” ― conviria, de facto...

 

Do outro lado, Pedro Nuno e Carneiro seguem táticas semelhantes (apenas se diferenciando na recusa do primeiro em debater ideias com o rival): moderação e centro (o segundo bem mais genuíno do que o primeiro, pese este ser chancelado por algumas figuras gradas mas que deviam ter um pouco mais de vergonha na cara), denúncia do PSD enquanto partido que tão mal fez aos pensionistas (uma lembrança que vamos ouvir até à exaustão nos meses pré-eleitorais!) e encosto oportunista à herança de Costa em praticamente tudo quanto aconteceu (de bom e de razoável, pontualmente, mas de péssimo, em termos de balanço antirreformista nos últimos oito anos e de gestão política das escolhas governativas e da maioria absoluta no último ano e meio). De propositura e de olhos para o futuro é que muito pouco ou quase nada, desgraçadamente...


(caricatura de João Vasco Correia, https://www.noticiasmagazine.pt)
 

Neste deprimente enquadramento, tudo quanto resta aos portugueses que ainda apreciem as vantagens da democracia passa por rezarem aos santos da sua devoção para que a surpresa do resultado de 10 de março não seja maior do que aquela que as encomendas em curso tendem a ditar. Haja Deus!

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