Por muito que seja horrível tudo quanto se está a passar por aí, i.e., à nossa volta mais próxima, não consigo ainda hoje largar o tema (começando com o registo, acima, das “gordas” dos dois últimos dias, que foram sobretudo dias de Marcelo, um suspense moderado primeiro e um anúncio de dissolução a prazo depois).
Os pretextos para especular são inúmeros, quase infindáveis. Embora concorde em absoluto com o meu colega do lado quando refere que ainda será cedo para considerações e tomadas de decisão definitivas. Mas arrisco, optando por um estilo mais interrogativo do que afirmativo e sem uma ordenação estruturada de matérias.
Primeiro: e que terrível seria se tudo isto afinal não fosse, designadamente no que toca a António Costa, mais do que o resultado uma de duas hipóteses (um erro colossal e gravíssimo do Ministério Público e/ou uma casca de banana surgida sob controlada pressão de Costa junto de quem de direito para lhe proporcionar outros futuros caminhos há muito desejados)?
Segundo: e que dramático não seria se o avolumar das contrainformações que vão ser a norma das semanas que se seguem redundasse na hipótese aterradora de uma vitória eleitoral de um Chega que todos os dias ganha apoiantes (ou, pelo menos, eleitores zangados e de protesto)?
Terceiro: e que triste não é perceber-se de um modo tão expressivo o papel ativamente desconstrutivo (porque marcado por promiscuidades e conflitos de interesses) que crescentemente desempenham algumas grandes sociedades de advogados, com sócios de algumas a serem diretamente implicados em negócios pouco claros e potencialmente ilegais, com a agravante de ex-políticos a elas surgirem ligados em termos não necessariamente transparentes?
Quarto: e que lamentável não é ver Costa a fazer o que lhe competia num dia (demissão) e a aparecer, dois dias depois, simultaneamente sorridente e durão e acompanhado da mulher e de alguns camaradas (com Eduardo Vítor Rodrigues no papel de emplastro, sublinhe-se) a criticar o presidente por não ter optado pela “solução estável” que lhe oferecera na pessoa de um governador do Banco de Portugal tornado objetivamente pau para toda a colher?
Quinto: e que mau não é que tudo se esteja a estruturar no sentido de um Partido Socialista perdido entre as duas opções que Francisco Mendes da Silva tão bem descreve no “Público” de hoje como a de um Pedro Nuno Santos que “acumula aparelho, carisma e vontade de ser líder” (mas a quem falta tudo o resto, bom senso e moderação antes de mais) e a dos outros que “não têm sequer vontade ou coragem de o enfrentar” e “mandaram para o sacrifício estimável José Luís Carneiro” (havendo quem refira que ainda poderá acontecer que Seguro possa querer voltar no lugar deste, sob a batuta de alguns inteligentes portadores de especiais interesses)?
Sexto: e que penoso não vai continuar a ser assistirmos a uma repetitividade de pequenos e grandes episódios como aqueles que já nos têm vindo a ser fornecidos pelas ações e factos atribuídos ao lobista Diogo Lacerda Machado, ao indefinível Vítor Escária ou ao agarotado e arrogante João Galamba (to say the least), isto se não vierem entretanto ao de cima a vendeta e os horrores associados aos casos e casinhos que tantos atribuem a Luís Montenegro?
Sétimo: e que insuportável não é que tenhamos diante de nós umas eleições para mais quatro anos em que verdadeiramente ninguém se preocupe com dimensões programáticas e de compromisso capazes de protagonizarem um projeto de esperança e futuro para o País?
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