domingo, 12 de novembro de 2023

A INFANTILIZAÇÃO DOS JOVENS

 


(O Expresso online publicou uma excelente peça jornalística de Joana Pereira Bastos, preocupante pelos contornos e conteúdo que revela, quanto à fraca maturidade dos jovens que têm protagonizado a incessante subida taxa de participação no ensino superior. Ainda que me pareça que uma abordagem de género seria necessária para esclarecer plenamente esta questão, já que as evidências apontam para que a diferença de resultados entre as estudantes do sexo feminino e do sexo masculino não seja apenas um problema de capacidade intelectual, mas essencialmente de maturidade. A peça jornalística suscitou-me alguma reflexão e não pude deixar de comparar os indícios comprometedores para os pais e para os jovens revelados pela reportagem com o meu próprio comportamento como pai de dois filhos que completaram a sua formação universitária. E foi com apreço que registei na minha geração e no meu próprio contexto a total ausência desses comportamentos metediços, securitários, de intromissão permanente na vida universitária dos filhos, reveladores em meu entender de uma profunda frustração, de ambição desmedida e muito provavelmente sequência lógica e normal de uma educação conduzida segundo as piores práticas, conducentes à desresponsabilização, à infantilização e, obviamente, ao adiamento dos ganhos de maturidade que qualquer cidadão deve experienciar. Temos aqui mais um exemplo do enviesamento empobrecedor da desvalorização do idadismo e da ideia de que a evolução das gerações se concretiza sempre com progresso social. Tudo isto não significa que tenhamos de deixar de ser portugueses e abandonar os nossos modelos culturais de família para aderir à frieza de relações que outras culturas mantêm com os filhos, abrindo-lhes o mais cedo possível a porta de saída.)

Em cerca de 35 anos de vida como professor universitário não me lembro de ter recebido uma vez que fosse algum pai ou mãe de aluno e muito menos ter-me sido dirigida alguma correspondência, postal enquanto não apareceu o correio eletrónico ou eletrónica depois dessa grande inovação. Não tinha fama de professor que facilitava, antes era bastante exigente, e nunca me passou pela cabeça que pai ou mãe de um aluno viesse dirimir questões. Tenho histórias curiosas com alunos, a melhor das quais se passava no meu período em que antes de entrar como assistente na FEP tinha uma atividade profissionalizada de explicador de economia, na para mim saudosas instalações da esquina de José Falcão com a Rua de Ceuta, bem ao pé da já extinta Livraria Leitura. O meu contingente de explicandos era numeroso, onde abundavam alunos provenientes de famílias abastadas da Foz, alguns dos quais haveriam de chegar a postos de chefia no sistema financeiro ou mesmo em grupos empresariais. Muita daquela gente não era propriamente assídua às duas explicações semanais que realizava em grupos de 10 alunos. No fim do mês, tinha amavelmente de rejeitar alguns pedidos para que eu recebesse a totalidade das “propinas”, pois diziam eles que os pais os “matariam” se soubessem que faltavam às explicações.

Comparando essa manifestação de respeito pelas obrigações impostas pelos encarregados de educação com os exemplos de intromissão na vida universitária que a jornalista Joana Pereira Bastos descreve na sua peça fico espantado com a degradação do ambiente.

Infantilização é a palavra certa e ela só poderá ser o resultado da alteração das condições de educação até à entrada na Universidade e creio que neste caso o problema não deve ser assacado à responsabilização dos professores do secundário. O problema deverá estar na socialização securitária das famílias e no estilo de educação desresponsabilizante que estará a ser praticada. O que significa que, provavelmente mais eles do que elas, terão de ganhar maturidade nos primeiros anos de integração empresarial ou em qualquer outra organização. Com as consequências óbvias em matéria de eficiência global dessas mesmas organizações. Ou será que os paizinhos continuarão a sua senda protetora interferindo também nos empregos dos filhos?

Este é mais um motivo para torcer o nariz à pretensão do governo agora prestes a entrar em funções de gestão de conceder à posteriori prémios a quem termina uma licenciatura.

O país precisa de jovens responsáveis e maduros, não de meninos da mamã ou do papá. Só nos faltava mais esta.

 

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