segunda-feira, 6 de novembro de 2023

AS PERCEÇÕES SOBRE BIDEN: AS NOSSAS E AS DELES

 


(É muito comum entre nós, e genericamente entre muitos Europeus, ouvir-se o desabafo de que é uma sorte a Presidência dos EUA estar entregue a um homem como Joe Biden, velho é certo, mas sensato e sobretudo com memória de outros tempos, para melhor entender a conturbada situação mundial que temos. Não por acaso, ou seja devido à noção que temos que a União Europeia é um desastre enquanto VOZ a nível mundial, muitos se interrogam especulativamente sobre o que seria o mundo se nos conflitos da Ucrânia e na guerra Israel -Hamas os EUA tivessem outro timoneiro. É óbvio que noutros dossiers, como o do AUKUS, o acordo entre os EUA, o Reino Unido e a Austrália para uma ofensiva económica no Pacífico, em que a Europa foi marginalizada, irritaram profundamente alguns Europeus, particularmente a França. E é verdade também que a política económica de Biden, principalmente na área ambiental e dos microprocessadores assustou profundamente a inteligência económica europeia. Mas essas desconfianças são mais produto da própria incapacidade da União Europeia do que propriamente fruto do agravo suscitado pela personalidade de Biden. Globalmente, o pensamento europeu dominante é de alívio com a presença de Biden, atendendo principalmente à alternativa que poderíamos ter enfrentado se Biden tivesse perdido a sua eleição. Por tudo isto, é que a notícia do New York Times com informação sobre sondagens eleitorais recentes em alguns Estados americanos considerados críticos em qualquer vitória/derrota eleitoral é um valente murro no estômago do alívio europeu.)

Sabemos que o mais que provável adversário de Biden nas eleições de 2021 é um trapaceiro, um fanfarrão, antidemocrata, corrupto, mestre das fake news, propulsor do populismo nas suas piores manifestações, incluindo as da insurreição. Dificilmente o Partido Republicano impedirá a ascensão de Trump, o que significa na prática que o partido de Reagan e Eisenhower está corrompido com os valores atrás resumidos, por eles manietado e pela ganância (greed) que os acolhe.

Para um Europeu de boa vontade, a sensatez da opinião pública afastaria liminarmente a possibilidade de alguém sempre pronto a negar os resultados de eleições livres as poder vencer. Mas o estado da opinião pública americana, a fazer fé nos resultados destas sondagens críticas publicadas pelo NYT, atesta o contrário. Uma pessoa execrável com toda aquela folha de serviços pode ganhar as eleições, assim como as ganhou (não em votos mas em representantes) a uma Hillary Clinton que desde aí nunca mais foi a mesma. O que significa que as nossas perceções e as deles não se alimentam dos mesmos critérios e que não é irrealista termos a dirimir conflitos mundiais um personagem deste calibre, o qual além do mais já demonstrou quando no poder o que pode fazer de perturbador para a ordem mundial.

Irrita-me bastante quando alguns pregadores da nossa praça, regra geral apreciadores dos poderes absolutos do mercado, nos acusam de não saber lidar com trapaceiros deste calibre e com os seus apoiantes. Na nossa vida prática e corrente, quando um trapaceiro e aldrabão violento sem vergonha se cruza connosco em alguma esfera da nossa vida pessoal ou profissional, a sabedoria manda que se evite o confronto e lhes viremos as costas, pois perderíamos sempre o confronto por não usarmos as mesmas armas e por não termos essas competências de trapaceiro.

Claro que as sondagens apresentadas pelo NYT não são apenas fruto de diferentes perceções (as nossas e as deles) quanto ao personagem Joe Biden e à sua velhice. Para elas também devem contar as perceções sobre o modo como o Partido Democrata hoje se apresenta aos olhos dos americanos e aqui o nosso desconhecimento é grande, apesar da busca incessante de informação do lado de cá do Atlântico. Algum radicalismo democrata e algumas tentativas de jogar no estilo e no campo de Trump devem obviamente contribuir para a não erradicação deste último das chances de vitória.

O que fazer então?

Lamentavelmente e à distância, resta-nos esperar que, em cima da decisão final, um mínimo de responsabilidade e equilíbrio paire sobre os votantes americanos e evite a tragédia.

Lamentavelmente, segundo o que o Expresso me transmite, “Zelensky convida Trump a visitar a Ucrânia para mostrar a devastação da guerra”. Só nos faltava esta e não vou arriscar que o líder ucraniano tenha lido a notícia do NYT.

 

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