(Muitas variáveis,
algumas das quais interagindo entre si, estão na raiz da agitação dos mercados e da devastadora
venda massiva que varreu os mercados financeiros e de ações)
John Authers tem no Financial Times uma peça sugestiva
que nos ajuda a compreender a devastadora e massiva venda de ativos que varreu
os mercados nos últimos dias que, como vimos ontem, agrava a fragilidade da
situação portuguesa. Segundo Authers, são pelo menos 12 as variáveis que podem
ter precipitado a turbulência mais significativa desde 2008 e que alguns
consideram prenúncio de mais alguma coisa.
A não concertação entre os produtores de petróleo de uma
limitação à oferta precipitou a descida de preços induzida por uma quebra da
procura global e, apesar dos efeitos positivos para importadores de petróleo, a
queda do efeito-rendimento associada à sua produção está a ampliar a instabilidade
sentida por dimensões do mercado financeiro associadas a esse efeito-rendimento.
Entre estas dimensões estão os chamados fundos SWF (Sovereign
Wealth Funds) que reciclam petrodólares e que com a queda do efeito
receita fizeram disparar as suas vendas na procura de liquidez, atingindo as ações
americanas e japonesas.
O comportamento dos mercados acionários chineses e da sua
moeda, com a intervenção das autoridades chinesas em ambas as situações a não
produzir estabilização satisfatória, ajudaram à missa.
O timing utilizado para o FED – USA fazer subir as taxas
de referência e as expectativas hoje instaladas de que mais cedo do que o esperado
o FED será forçado a descer as mesmas taxas impactaram a generalidade dos
mercados mundiais.
A baixa lucratividade das empresas americanas cotadas no
S&P 500 ajudou a cavar expectativas de que o mundo económico já não é o que
era, sobretudo a sua alavanca americana.
A generalização de taxas de juro negativas tendeu a gerar
a ideia de uma profunda quebra de rendibilidade dos bancos cotados,
precipitando a queda do valor das suas ações, para além de que não são
convincentes os sinais respeitantes à solidez dos bancos europeus. Veja-se a necessidade
que o inefável Sr. Schauble teve de vir proclamar a solidez do Deutsche Bank. E
mais do que isso há uma pergunta no ar: se as taxas negativas não produzirem
efeitos, o que podem os bancos centrais fazer? Há muito boa gente que não hesita
em proclamar que chegaremos ao “helicopter
money” ou seja imaginem-se os cidadãos fiscais destes países a receber em cash
um estímulo ao consumo. Imagine-se também as “trombas” dos diretórios europeus
perante esta possibilidade!
A economia americana, embora seja a que no mundo avançado
está em melhores condições, não tem convencido os investidores de que não
esteja eminente uma nova recessão. O FED, mesmo depois de ter subido as taxas
de referência, permanece muito cauteloso. Veja-se aqui o último testemunho da
sua Presidente Janet Yellen.
Os analistas dos mercados de títulos lançam um outro
sinal ameaçador. A chamada “yield curve” dos principais mercados que relaciona
as taxas com as maturidades dá sinais de aplanamento, revelando que os títulos
de mais longo prazo mostram desvios cada vez mais pequenos face aos títulos de
mais curto prazo.
A regulação bancária nos EUA tornou os bancos menos
arriscados mas reduziu liquidez para compradores em situação de vendas massivas.
E, finalmente, eleitores e investidores estão de candeias
às avessas. As tendências animadas pelos primeiros, provavelmente em fúria com os
segundos, incomodam estes últimos e potenciam-se não virtuosamente.
Authers conclui, e isso é boa música para os meus ouvidos
despertos, que a política monetária parece ter perdido a sua eficácia. A
canhestra ortodoxia macroeconómica que nos governa tem feito adiar a
inevitabilidade da política fiscal tomar o rumo. Será que o mundo precisa de
uma nova recessão para mostrar que a política fiscal não morreu com
a morte do próprio Keynes?
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