sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

TURBULÊNCIA COMPLEXA




(Muitas variáveis, algumas das quais interagindo entre si, estão na raiz da agitação dos mercados e da devastadora venda massiva que varreu os mercados financeiros e de ações)


John Authers tem no Financial Times uma peça sugestiva que nos ajuda a compreender a devastadora e massiva venda de ativos que varreu os mercados nos últimos dias que, como vimos ontem, agrava a fragilidade da situação portuguesa. Segundo Authers, são pelo menos 12 as variáveis que podem ter precipitado a turbulência mais significativa desde 2008 e que alguns consideram prenúncio de mais alguma coisa.

A não concertação entre os produtores de petróleo de uma limitação à oferta precipitou a descida de preços induzida por uma quebra da procura global e, apesar dos efeitos positivos para importadores de petróleo, a queda do efeito-rendimento associada à sua produção está a ampliar a instabilidade sentida por dimensões do mercado financeiro associadas a esse efeito-rendimento.

Entre estas dimensões estão os chamados fundos SWF (Sovereign Wealth Funds) que reciclam petrodólares e que com a queda do efeito receita fizeram disparar as suas vendas na procura de liquidez, atingindo as ações americanas e japonesas.

O comportamento dos mercados acionários chineses e da sua moeda, com a intervenção das autoridades chinesas em ambas as situações a não produzir estabilização satisfatória, ajudaram à missa.

O timing utilizado para o FED – USA fazer subir as taxas de referência e as expectativas hoje instaladas de que mais cedo do que o esperado o FED será forçado a descer as mesmas taxas impactaram a generalidade dos mercados mundiais.

A baixa lucratividade das empresas americanas cotadas no S&P 500 ajudou a cavar expectativas de que o mundo económico já não é o que era, sobretudo a sua alavanca americana.

A generalização de taxas de juro negativas tendeu a gerar a ideia de uma profunda quebra de rendibilidade dos bancos cotados, precipitando a queda do valor das suas ações, para além de que não são convincentes os sinais respeitantes à solidez dos bancos europeus. Veja-se a necessidade que o inefável Sr. Schauble teve de vir proclamar a solidez do Deutsche Bank. E mais do que isso há uma pergunta no ar: se as taxas negativas não produzirem efeitos, o que podem os bancos centrais fazer? Há muito boa gente que não hesita em proclamar que chegaremos ao “helicopter money” ou seja imaginem-se os cidadãos fiscais destes países a receber em cash um estímulo ao consumo. Imagine-se também as “trombas” dos diretórios europeus perante esta possibilidade!

A economia americana, embora seja a que no mundo avançado está em melhores condições, não tem convencido os investidores de que não esteja eminente uma nova recessão. O FED, mesmo depois de ter subido as taxas de referência, permanece muito cauteloso. Veja-se aqui o último testemunho da sua Presidente Janet Yellen.

Os analistas dos mercados de títulos lançam um outro sinal ameaçador. A chamada “yield curve” dos principais mercados que relaciona as taxas com as maturidades dá sinais de aplanamento, revelando que os títulos de mais longo prazo mostram desvios cada vez mais pequenos face aos títulos de mais curto prazo.

A regulação bancária nos EUA tornou os bancos menos arriscados mas reduziu liquidez para compradores em situação de vendas massivas.

E, finalmente, eleitores e investidores estão de candeias às avessas. As tendências animadas pelos primeiros, provavelmente em fúria com os segundos, incomodam estes últimos e potenciam-se não virtuosamente.

Authers conclui, e isso é boa música para os meus ouvidos despertos, que a política monetária parece ter perdido a sua eficácia. A canhestra ortodoxia macroeconómica que nos governa tem feito adiar a inevitabilidade da política fiscal tomar o rumo. Será que o mundo precisa de uma nova recessão para mostrar que a política fiscal não morreu com a morte do próprio Keynes?

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