quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

ORA VAMOS CÁ A VER...


Passe a expressão, mas a verdade é que já não tenho saco para ouvir políticos puros e duros, de todas as cores diga-se de passagem, a bramirem argumentos em sua defesa (ou em defesa das políticas que lhes são queridas) centrados numa evolução favorável (ou não desfavorável) das taxas de juro das dívidas soberanas do País. Esta gente ainda não percebeu que os mercados são exuberantes e nervosos? Que os comportamentos das yields são largamente função de um enquadramento externo que nos condiciona quase em absoluto? Que as taxas desceram principalmente por via do chamado “efeito Draghi”? Que é um erro primário, e seguramente com inevitáveis impactos tipo boomerang, utilizar esses elementos vindos dos mercados como sinais da qualidade das políticas conjunturalmente levadas a cabo? E assim por diante...

Proponho um exercício simples aos mais desconfiados, um exercício que toma por base o prémio de risco que foi estando associado às obrigações portuguesas a dez anos ao longo da última década. A comparação é feita em relação aos equivalentes para a dívida alemã (de notar, by the way, que algumas tendências podem decorrer mais significativamente de mudanças observadas na variável de comparação do que na variável sob análise), nos termos do gráfico para o período 2006/16 acima reproduzido e do qual consta tudo o que nos foi dramaticamente acontecendo na matéria a partir da crise financeira global e, em particular, da crise da Zona Euro. Mas não é esse o meu ponto, antes sim o que resultaria de possíveis e diferentes seccionamentos temporais que tomássemos por referência (ver gráficos abaixo) – exemplifico: se olhássemos para o risco soberano de Portugal desde o seu pico de inícios de 2012 até ao presente, facilmente concluiríamos pela enormidade positiva da respetiva queda; todavia, se o fizéssemos focados no período subsequente à saída da Troika (maio 2014), a resultante seria a de nos encontrarmos hoje ao mesmo nível de então (e o mesmo se poderia dizer para a totalidade do período pré-eleitoral e eleitoral que vivemos desde o Verão passado); ao invés, os últimos meses indiciam trends moderadamente ascendentes e de dimensões próximas (seja tomando por base o imediato pós-legislativas, a tomada de posse do governo PS ou apenas o último mês), trends que poderiam aliás ser considerados negligenciáveis se tomássemos por linha referencial o valor mais baixo registado nestes anos (março 2015). E assim sucessivamente, acho que chega para o efeito...

(elaboração própria a partir de http://www.datosmacro.com)

E assim me despeço com uma penhorada solicitação junto dos meus principais destinatários neste post: tratar-se-ia do especial favor de acabarem com esse jogo gratuito – e sobretudo perigoso para as mentes mais incautas – de brincarem aos gráficos como quem brinca às casinhas! Primeiro, porque os gráficos não têm culpa; depois, porque os gráficos são instrumentos demasiado úteis de análise para poderem ser armas de arremesso despropositadamente postos ao serviço da política pimba que nos vai cercando...

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