domingo, 7 de fevereiro de 2016

O CÍRCULO DELAUNAY




(Ecos de uma breve escapadela a Lisboa e oportunidade para uma visita à exposição do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian onde se mostra como o modernismo passou por cá pelo simples facto de Amadeu Sousa Cardoso e Eduardo Viana terem criado laços lá fora)


A obra de Sónia e Robert Delaunay representada na exposição do CAM é pictoricamente um banho de cor que faz bem à alma, sobretudo quando vemos os traços modernistas dos dois autores trabalharem motivos da vida popular portuguesa do Porto ao Minho passando por Vila do Conde onde estiveram cerca de um ano e sete meses instalados na sua passagem por Portugal nos inícios do século XX, com a Primeira Guerra Mundial como pano de fundo.

A ideia do círculo Delaunay é intrigante, pois não há propriamente um manifesto a unir os Delaunay a artistas como Amadeu Sousa Cardoso, Eduardo Viana, José Pacheco, José de Almada Negreiros, Guillaume Apollinaire e Blaise Cendras. A suspeita de espionagem a favor dos alemães de que Sónia Delaunay foi objeto ajuda a dar ao Círculo uma aragem ainda mais suspeitosa. O belo catálogo que enquadra a exposição (caro, muito caro) permite tomar contacto com a investigação suscitada pelo ambiente de criatividade que a estadia dos Delaunay suscitou.


Mas se a originalidade dos Delaunay vale a exposição, o retorno à obra de Amadeu Sousa-Cardoso e de Eduardo Viana faz bem ao ego. Aquela expressividade genial dos dois autores, mais expressiva a do primeiro dada a sua curta vida, está ali para mostrar que a renúncia ao isolamento pacóvio nacional está na origem daquele fulgor modernista, apontando-nos o oposto das trevas que haveriam de se abater mais tarde sobre o país, de novo fechado.

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