(Ecos de uma breve
escapadela a Lisboa e oportunidade para uma visita à exposição do Centro de
Arte Moderna da Gulbenkian onde se mostra como o modernismo passou por cá pelo simples facto de Amadeu Sousa Cardoso e
Eduardo Viana terem criado laços lá fora)
A obra de Sónia e Robert Delaunay representada na
exposição do CAM é pictoricamente um banho de cor que faz bem à alma, sobretudo
quando vemos os traços modernistas dos dois autores trabalharem motivos da vida
popular portuguesa do Porto ao Minho passando por Vila do Conde onde estiveram cerca
de um ano e sete meses instalados na sua passagem por Portugal nos inícios do
século XX, com a Primeira Guerra Mundial como pano de fundo.
A ideia do círculo Delaunay é intrigante, pois não há
propriamente um manifesto a unir os Delaunay a artistas como Amadeu Sousa
Cardoso, Eduardo Viana, José Pacheco, José de Almada Negreiros, Guillaume Apollinaire
e Blaise Cendras. A suspeita de espionagem a favor dos alemães de que Sónia
Delaunay foi objeto ajuda a dar ao Círculo uma aragem ainda mais suspeitosa. O
belo catálogo que enquadra a exposição (caro, muito caro) permite tomar
contacto com a investigação suscitada pelo ambiente de criatividade que a
estadia dos Delaunay suscitou.
Mas se a originalidade dos Delaunay vale a exposição, o
retorno à obra de Amadeu Sousa-Cardoso e de Eduardo Viana faz bem ao ego.
Aquela expressividade genial dos dois autores, mais expressiva a do primeiro
dada a sua curta vida, está ali para mostrar que a renúncia ao isolamento
pacóvio nacional está na origem daquele fulgor modernista, apontando-nos o
oposto das trevas que haveriam de se abater mais tarde sobre o país, de novo
fechado.
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