(Em minha opinião
o escavacado sistema bancário português limita-se a reproduzir as fragilidades do sistema produtivo português e
sobretudo a ser o reflexo de uma alocação de recursos no passado que iremos
amargar no futuro próximo)
O prejuízo de quase mil milhões de euros que o Novo Banco ontem revelou ter
caracterizado o exercício de 2015 é a ponta de um iceberg que está em
desmoronamento acelerado. A associação de um pretensamente banco bom depois de
se ter desprendido do chamado banco mau ou tóxico a um prejuízo desta
envergadura significa entre outras coisas que a regra e esquadro que
delimitaram o bom do mau deveriam ser tudo menos instrumentos bem aferidos e
rigorosos. Os critérios que o Banco de Portugal deve ter estabelecido para
delimitar tal operação de salvamento devem ter sido extremamente laxistas, a
fazer fé nos números apresentados e não há razões pelo menos aparentes para
suspeitar que a gestão de Stock da Cunha seja incompetente ou danosa. As
imparidades e os créditos não cobrados responsáveis por tais resultados são o
reflexo de mais do que duvidosas decisões de crédito e traduzem bem o clima de
racionalidade irracional que terá comandado um conjunto alargado de anos do
velho e defunto BES. O capitalismo português à Ricardo Salgado e seus
apaniguados e fiéis personagens da sua corte (que os havia e essa história
demorará anos a ser totalmente reconstruída) é uma fiel ilustração das ambições
espúrias que se terão acomodado em torno das benesses dessa corte. A ilusão de
grupos empresariais de dimensão global. A eterna confusão entre modelos de
exploração turística e imobiliário do mais arriscado. Diferentes expressões do
capitalismo rentista mais desenfreado e de captura do Estado. Tudo isso aparece
misturado na odisseia fraudulenta do BES.
O modelo de resolução preparado para a questão sai mal a prazo da forma
como a cada cavadela surge mais um problema. E sai mal porque assentou numa
delimitação de águas que nos foi apresentada como a base de uma solução que era
o melhor dos males que poderiam ter acontecido. Mas a posteriori podemos bem
pensar que a necessidade de venda do banco bom a curto prazo terá conduzido a
critérios de separação de águas menos rigorosos do que deveriam ter sido
estabelecidos na altura.
A opinião pública portuguesa não aprende. Vai por aí uma grande indignação
com o facto de corrermos o risco de ver a economia portuguesa à mercê de uma
banca espanhola mais forte sobretudo depois do resgate espanhol ter cortado a
direito. Não vejo qualquer indignação quanto à fragilidade da base produtiva
portuguesa, como se as duas coisas não devessem estar articuladas. Um processo
de financeirização extrema que pretende justificar-se em função de si próprio,
como se fosse possível desprender-se da economia real teria algum dia que dar
com os burros na água. E, como não podia deixar de ser, o espectro da
nacionalização teria que surgir, inevitavelmente. Porque no fundo o nosso
capitalismo que se estatelou ao comprido tem sempre em última instância de se
acolher sob o manto protetor do Estado e há sempre um PCP disposto a lutar por
isso. Como se um banco nacionalizado não enfrentasse os mesmos constrangimentos
do sistema sob o comando e regulação do BCE. Tristes tempos estes.
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