(Todos os sinais
apontam para o desmoronamento, qualquer que seja o resultado do referendo no Reino Unido)
Toda a encenação conservadora em torno do referendo sobre
o Brexit, futuramente conseguido ou barrado em referendo, tem ajudado a ocultar
o que é bem mais profundo do que o reflexo das idiossincrasias britânicas. Passou
assim despercebido o que o jornalista do Financial Times Alex Barker não hesita
em considerar a “insurreição de Viena”, uma espécie de reconstituição de um
novo bloco austro-húngaro. A Áustria, cujo governo de centro-direita em funções
está cada vez mais com os calos apertados numa sociedade que caminha vertiginosamente
para rumos pouco recomendáveis de direita extrema, convocou uma conferência em
Viena com nove países da chamada rota dos balcãs (Albânia, Bósnia, Bulgária, Kosovo,
Croácia, Macedónia, Montenegro, Sérvia e Eslovénia) para traçar rumos (já sabemos
de que rumos se trata) para a crise dos refugiados que utiliza aquela rota. Estranhamente,
nem o principal ponto de entrada (Grécia) e o principal ponto de destino
desejado (a Alemanha). Esta atitude potencialmente insurrecional diz bem da
posição difícil em que presentemente se encontra a senhora Merkel. O problema é
que esta atitude determinada em torno da crise dos refugiados decorre de
alterações mais profundas que têm vindo a desenvolver-se nas barbas do diretório
europeu, atiradas para baixo do tapete, porque há o risco de que sejam associadas
à forma penalizadora como os destinos europeus têm sido conduzidos,
designadamente do ponto de vista da submissão dos objetivos políticos de
integração aos interesses do mercado único e da globalização financeira.
Por conseguinte, o BREXIT acaba por ocultar uma espécie
de EU – EXIT apontado ao desmoronamento e ao desenvolvimento de círculos viciosos
interiores à União de que a crise dos refugiados e a inépcia para a gerir é
apenas uma simples manifestação. Quanto mais tardia é a produção de decisões de
execução exequível mais conjuntos insurrecionais como o de Viena vão
produzir-se e à medida que estes se multiplicam a possibilidade de uma solução
europeia é cada vez mais problemática. É um simples acontecimento mas a conclusão
do inquérito das autoridades alemãs sobre os chamados acontecimentos de Colónia,
na noite de passagem de ano, com o caso da pretensamente generalizadas agressões
sexuais perpetradas por refugiados recém-chegados à Alemanha, mostra como toda
esta questão pode ser manipulada sem os mínimos escrúpulos. Concluiu-se que a
esmagadora maioria dos casos relatados respeita a população muçulmana já
radicada na Alemanha há mais de dez anos e que só um número reduzidíssimo das ocorrências
envolveu refugiados.
Entretanto, vai-se discutindo quem ganha e quem perde com
a saída do Reino Unido. A curiosidade é que nessa discussão tem predominado o
ponto de vista do próprio Reino Unido e compreende-se porque é assim. É a
tentativa de influenciar por antecipação o resultado do próximo referendo. Trago
hoje aqui a posição do sempre estimulante Paul de Grauwe que discute a permanência
ou saída do Reino Unido na perspetiva da União e não daquele. A perspetiva de Grauwe é algo contundente. Mesmo que o sim vença no referendo, os eurocéticos
permanecerão na União Europeia como uma espécie de Cavalo de Troia, minando a
coesão da União. Nessa perspetiva, mais vale a pena saírem já e arcarem com as consequências
e contradições dessa decisão do que continuarem a minar a referida coesão. Mas
verdade das verdades já não sei de que coesão está Paul de Grauwe a falar.
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