(Confesso que, ao
fim destes anos todos, continua
a intrigar-me o simbolismo de Iowa no arranque das primárias para as nomeações
de democratas e republicanos)
Creio que só um mergulho prolongado na realidade americana
me levaria a compreender tão estranho simbolismo. As dúvidas e perguntas são
tantas que vale mais a pena ler resultados e partir para outra. E a leitura dos
resultados dá que pensar. Dos três candidatos republicanos melhor posicionados
nos resultados de ontem vá o diabo que escolha: entre a realidade dos pregadores
e igrejas rituais de Ted Cruz, o populismo autoritário de Trump e o reacionarismo
primário das ideias económicas de Rubio a saudade é grande do velho partido
republicano. Onde está esse espírito republicano?
Pelas bandas democratas não podia haver melhor tiro de
partida. Em meu entender, a emergência de Bernie Sanders é claramente o reflexo
da polarização da sociedade americana, suficientemente documentada neste blogue:
desigualdade crescente, estagnação salarial e divergência relevante face ao crescimento
da produtividade, estigmatização da condição social, aterragem da melhoria de
qualificações, não sei que mais. Um presidente socialista nos EUA? E porque não?
Hillary vai ter de porfiar e chamar a cavalaria pesada e sobretudo vai ter de
definir-se melhor face aos fatores de polarização da sociedade americana.
Nos EUA há resultados analíticos de primárias que vale a
pena ponderar bem. Hillary ganha na população com mais de 65 anos e Sanders
entre os mais jovens. Onde é que eu já vi isto? Em matéria de honestidade e
confiança, Sanders dá uma cabazada a Hillary, mas esta é considerada com mais
probabilidades de ganhar. Esclarecedor, não?
Entre os republicanos, Cruz é considerado o mais conservador,
Trump o mais verdadeiro (tal como é) e Rubio é o que é considerado com mais
possibilidades de ganhar.
Apenas inteligência democrática dos votantes no Iowa, por
mais conservadora e rural que seja a terra.
A corrida começou mas o sentido da polarização está lá,
clarinho como água.
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