(Miscelânea de
pequenas notas impressivas para
compor um ramalhete que talvez tenha um sentido global)
Ecos de New Hampshire
Bem pode Hillary esgotar-se em declarações de amor a este
Estado americano. Os eleitores deste Estado confirmaram a sua raiva para com os
poderosos e sobretudo para o que Wall Street representa de primado dos
interesses do sistema financeiro, interesses dos quais Hillary não se tem
demarcado com suficiente intensidade e clareza. O artigo da Forbes ontem aqui
citado parece confirmar que os eleitores democratas deste Estado (a América é
demasiado profunda e complexa para extrapolações sólidas) já escolheram os seus
vilões de estimação (e Wall Street está aí perfeitamente identificado) e
preferiram o discurso político (e talvez a prática) que mais veementemente
condena esses vilões. Chegará isto para Bernie Sanders ganhar a nomeação? Não
arrisco qualquer previsão.
Do lado republicano, já se percebeu que Trump está aí
para as curvas e que Jeff Bush talvez não esteja acabado.
Mas o dado mais sugestivo é a possibilidade de uma
candidatura autónoma (face a estas nomeações) de Michael Bloomberg, o que seria
a cereja no topo do bolo de uma entusiasmante corrida e que talvez possa
beneficiar os democratas. Será assim?
Quando na política se discutem questões
desta natureza …
Na já de si intrincada situação política espanhola,
imagine-se que um grande foco do debate político dos últimos dias tem sido o
que pode ser sucintamente antecipado pela imagem acima: Pablo Iglésias
(PODEMOS) de smoking e Pedro Sánchez, muito TSIPRAS ou LOUÇÃ-look, de fato e
camisa sem gravata, em conversa na cerimónia de atribuição dos Goya (uma
espécie de óscares à espanhola). O alarido em torno desta imagem tem por
contraponto a outra imagem da saída de Pablo Iglésias da sua audiência com o
Rei Felipe em mangas de camisa e no mais puro traje descuidado quanto baste, o
que pode ter várias e complexas leituras simbólicas. Por trás de todo este
alarido está a dificuldade do PSOE em integrar na sua proposta de governo
minoritário o PODEMOS, com Iglésias a vice-Presidente e mais alguns ministros,
a fazer fé no que foi interpretado pelo PSOE como uma inqualificável humilhação
de comunicar ao monarca o que não tinha sido previamente proposto ao PSOE.
Cá por mim gosto que os políticos em geral se sintam bem
na indumentária que melhor vai com a sua maneira de estar. O que não suporto é
aquelas fotografias de reuniões ad-hoc
de fim-de-semana em que a maioria dos ministros e secretários de Estado faz a
rábula do casual para ganhar intimidade com a populaça. Nem todos os políticos
têm arcaboiço para o casual. Alguns surgem aos nossos olhos bem despidinhos nessa
indumentária e não gosto que o poder caia na rua. E alguns são tão ou mais conservadores
sem gravata como se vestissem um fatinho que não necessita de ser Zegna su
misura, que isso pode cheirar a rendimentos pouco claros, declarados ou não
para o Constitucional. Por isso, não me interessa que Pedrito assuma um look tipo Tsipras ou que Pablito se
aproxime da gente do espetáculo em smoking, alugado ou comprado na mais
requintada Madrid. O que me interessava é que fossem antes falados pelo caráter
intrépido e coerente das suas ideias, contribuindo para o desatar do lio
político em que estão mergulhados, ou então que saiam de cena para abraçar
outras profissões.
O que vale ser simplesmente competente
Já aqui enunciei a minha perplexidade para com a reduzida
discussão que o tema e o cálculo do défice estrutural suscitaram no debate
político em Portugal, sinal na minha modesta interpretação de uma baixíssima
literacia económica, que faz temer o pior. Anotei na altura a exceção de um
pequeno post de Francisco Louçã no
seu blogue do Público. Registei ainda a crónica de Luis Aguiar-Conraria no
Observador (“Défices e aldrabices”). Pode ter-me escapado mas nada de mais
significativo me passou pelos olhos, com a exceção recente do artigo de Mariana
Mortágua no Público (“Défice estrutural: magia negra”). Não discuto os objetivos
deste trabalho competente de Mariana. Mas é um bom contributo para uma maior
literacia sobre algo que marcará as nossas vidas e do país, oxalá me engane,
por muito tempo. Não ouvi ninguém do PS refletir sobre tal matéria. Espero que
isso não seja sinónimo de que não vale a pena perder tempo com coisas tão
tecnocráticas. O problema é que os socialistas e social-democratas aceitaram
que um tratado europeu se permitisse invocar um indicador desta natureza cujo
cálculo se não for devidamente escrutinado do ponto de vista político se
arrisca a ser fonte de mais do que suspeitas hipóteses de trabalho. Depois
admirem-se que o eleitorado mais jovem ouça mais os simplesmente mais
competentes. E Mariana vai segura (não direi formosa porque isso depende do
imaginário de cada um) na sua trajetória parlamentar.
Ter tempo para pensar como universitário
Mário Centeno tem-se desdobrado entre discussões em
Bruxelas com o muro das lamentações (e exigências) da burocracia dos
diretórios, em entrevistas aos principais órgãos de comunicação social
nacionais e esclarecimentos no Parlamento. E nem consigo imaginar a tensão da
antecâmara da apresentação de um orçamento. Faz pela vida e ninguém o pode
acusar disso. O cargo de ministro das Finanças deve ser arrepiante de tensão.
Os jornalistas têm-se preocupado pacoviamente em encontrar e explorar possíveis
contradições entre a sua produção como investigador e universitário e o seu
pensamento e ação como ministro como se isso tivesse algum significado
atendendo aos contextos a que se referem. Achei graça na entrevista ao Expresso
a sua alusão ao facto de ainda não ter tido tempo para pensar como investigador
e universitário. Ainda bem. E estou em crer que se alguma vez regressar às
lides académicas teremos um melhor investigador e um economista mais profundo e
seguro.
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