quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

CURTAS, MAS NÃO SÃO DE CINEMA




(Miscelânea de pequenas notas impressivas para compor um ramalhete que talvez tenha um sentido global)


Ecos de New Hampshire

Bem pode Hillary esgotar-se em declarações de amor a este Estado americano. Os eleitores deste Estado confirmaram a sua raiva para com os poderosos e sobretudo para o que Wall Street representa de primado dos interesses do sistema financeiro, interesses dos quais Hillary não se tem demarcado com suficiente intensidade e clareza. O artigo da Forbes ontem aqui citado parece confirmar que os eleitores democratas deste Estado (a América é demasiado profunda e complexa para extrapolações sólidas) já escolheram os seus vilões de estimação (e Wall Street está aí perfeitamente identificado) e preferiram o discurso político (e talvez a prática) que mais veementemente condena esses vilões. Chegará isto para Bernie Sanders ganhar a nomeação? Não arrisco qualquer previsão.

Do lado republicano, já se percebeu que Trump está aí para as curvas e que Jeff Bush talvez não esteja acabado.

Mas o dado mais sugestivo é a possibilidade de uma candidatura autónoma (face a estas nomeações) de Michael Bloomberg, o que seria a cereja no topo do bolo de uma entusiasmante corrida e que talvez possa beneficiar os democratas. Será assim?

Quando na política se discutem questões desta natureza …

Na já de si intrincada situação política espanhola, imagine-se que um grande foco do debate político dos últimos dias tem sido o que pode ser sucintamente antecipado pela imagem acima: Pablo Iglésias (PODEMOS) de smoking e Pedro Sánchez, muito TSIPRAS ou LOUÇÃ-look, de fato e camisa sem gravata, em conversa na cerimónia de atribuição dos Goya (uma espécie de óscares à espanhola). O alarido em torno desta imagem tem por contraponto a outra imagem da saída de Pablo Iglésias da sua audiência com o Rei Felipe em mangas de camisa e no mais puro traje descuidado quanto baste, o que pode ter várias e complexas leituras simbólicas. Por trás de todo este alarido está a dificuldade do PSOE em integrar na sua proposta de governo minoritário o PODEMOS, com Iglésias a vice-Presidente e mais alguns ministros, a fazer fé no que foi interpretado pelo PSOE como uma inqualificável humilhação de comunicar ao monarca o que não tinha sido previamente proposto ao PSOE.

Cá por mim gosto que os políticos em geral se sintam bem na indumentária que melhor vai com a sua maneira de estar. O que não suporto é aquelas fotografias de reuniões ad-hoc de fim-de-semana em que a maioria dos ministros e secretários de Estado faz a rábula do casual para ganhar intimidade com a populaça. Nem todos os políticos têm arcaboiço para o casual. Alguns surgem aos nossos olhos bem despidinhos nessa indumentária e não gosto que o poder caia na rua. E alguns são tão ou mais conservadores sem gravata como se vestissem um fatinho que não necessita de ser Zegna su misura, que isso pode cheirar a rendimentos pouco claros, declarados ou não para o Constitucional. Por isso, não me interessa que Pedrito assuma um look tipo Tsipras ou que Pablito se aproxime da gente do espetáculo em smoking, alugado ou comprado na mais requintada Madrid. O que me interessava é que fossem antes falados pelo caráter intrépido e coerente das suas ideias, contribuindo para o desatar do lio político em que estão mergulhados, ou então que saiam de cena para abraçar outras profissões.

O que vale ser simplesmente competente

Já aqui enunciei a minha perplexidade para com a reduzida discussão que o tema e o cálculo do défice estrutural suscitaram no debate político em Portugal, sinal na minha modesta interpretação de uma baixíssima literacia económica, que faz temer o pior. Anotei na altura a exceção de um pequeno post de Francisco Louçã no seu blogue do Público. Registei ainda a crónica de Luis Aguiar-Conraria no Observador (“Défices e aldrabices”). Pode ter-me escapado mas nada de mais significativo me passou pelos olhos, com a exceção recente do artigo de Mariana Mortágua no Público (“Défice estrutural: magia negra”). Não discuto os objetivos deste trabalho competente de Mariana. Mas é um bom contributo para uma maior literacia sobre algo que marcará as nossas vidas e do país, oxalá me engane, por muito tempo. Não ouvi ninguém do PS refletir sobre tal matéria. Espero que isso não seja sinónimo de que não vale a pena perder tempo com coisas tão tecnocráticas. O problema é que os socialistas e social-democratas aceitaram que um tratado europeu se permitisse invocar um indicador desta natureza cujo cálculo se não for devidamente escrutinado do ponto de vista político se arrisca a ser fonte de mais do que suspeitas hipóteses de trabalho. Depois admirem-se que o eleitorado mais jovem ouça mais os simplesmente mais competentes. E Mariana vai segura (não direi formosa porque isso depende do imaginário de cada um) na sua trajetória parlamentar.

Ter tempo para pensar como universitário

Mário Centeno tem-se desdobrado entre discussões em Bruxelas com o muro das lamentações (e exigências) da burocracia dos diretórios, em entrevistas aos principais órgãos de comunicação social nacionais e esclarecimentos no Parlamento. E nem consigo imaginar a tensão da antecâmara da apresentação de um orçamento. Faz pela vida e ninguém o pode acusar disso. O cargo de ministro das Finanças deve ser arrepiante de tensão. Os jornalistas têm-se preocupado pacoviamente em encontrar e explorar possíveis contradições entre a sua produção como investigador e universitário e o seu pensamento e ação como ministro como se isso tivesse algum significado atendendo aos contextos a que se referem. Achei graça na entrevista ao Expresso a sua alusão ao facto de ainda não ter tido tempo para pensar como investigador e universitário. Ainda bem. E estou em crer que se alguma vez regressar às lides académicas teremos um melhor investigador e um economista mais profundo e seguro.

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