terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

A RECORRÊNCIA DA DÍVIDA




(Robert Skidelski, emérito biógrafo de Keynes, reflete sobre o alcance do peso da dívida e leva-nos à boleia para um relatório da McKinsey que não pode passar despercebido neste blogue)

Robert Skidelski conduz-nos no Social Europe a uma interrogação que todos nos assalta e para a qual a economia tem pouco a dizer. O biógrafo de Keynes coloca a questão de saber se há algum nível ou limiar de peso da dívida (pública e privada) total no rendimento ou no produto gerado que nos ponha a salvo de vulnerabilidades que não podemos controlar. Houve quem quisesse determinar rigorosamente esse limiar e deu-se mal, como sabemos desde o famoso bug do Excel de Rogoff e Reinhart. Hoje, os economistas são mais sóbrios. Esse limiar talvez exista mas as circunstâncias que o diferenciam de país para país e de momento para momento que é preferível aceitar que não o podemos calcular. Isso não elimina como é óbvio a cautela e os caldos de galinha.

A leitura da crónica de Skidelski leva-nos a um relatório da McKinsey de 2015 sobre estas matérias que vale a pena considerar pelo menos para sistematizar evidências. É uma preciosa compatibilização de fontes e isso poupa muitas pestanas.

A figura que abre este post merece que nos detenhamos sobre ela. Aí se compara o peso da dívida total no segundo trimestre de 2014 (digamos o stock da dívida total por país nesse momento), registado no eixo dos XXX, com a variação desse mesmo peso entre 2007 e 2014, registada como ordenada. No caso de Portugal, essa variação inclui a grande alavancagem de endividamento registado até ao ajustamento de 2011-2013 e os próprios efeitos deste último ajustamento. Portugal integra um conjunto de 4 países (3 do ajustamento, Portugal, Grécia e Irlanda e um outro, Singapura) que se “notabiliza” quer pelo seu elevado peso de dívida total no PIB, quer pelo aumento significativo registado no referido período de 2007-2014. Tudo pequenos países, o que pode explicar o efeito peso, mas já o efeito-variação. Do grupo dos 4, Portugal e a Grécia são os mais vulneráveis já que não têm a capacidade de procura externa que a Irlanda e Singapura apresentam. O peso da dívida total é algo assustador em Portugal: 358% do PIB, ocupando o 4º lugar no ranking mundial. Embora do ponto de vista do peso, a dívida privada supere a pública (a esta corresponde 148% do PIB), na variação entre 2007 e 2014 é a dívida pública que responde por 83% desse aumento, cabendo às empresas o contributo de 19%, tendo as famílias como se diz agora desalavancado, apresentando um contributo negativo de -2%.


Em relação a esforços futuros, a McKinsey aponta o crescimento económico de 3,9% para que Portugal pudesse começar um processo sustentado de desalavancagem. Com uma previsão de um crescimento médio de 1,4% para o período 2014-2019, isso significa um esforço adicional de crescimento de 2,5%.

É por todas estas razões que …

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