(Robert Skidelski,
emérito biógrafo de Keynes, reflete
sobre o alcance do peso da dívida e leva-nos à boleia para um relatório da
McKinsey que não pode passar despercebido neste blogue)
Robert Skidelski conduz-nos no Social Europe a uma
interrogação que todos nos assalta e para a qual a economia tem pouco a dizer.
O biógrafo de Keynes coloca a questão de saber se há algum nível ou limiar de
peso da dívida (pública e privada) total no rendimento ou no produto gerado que
nos ponha a salvo de vulnerabilidades que não podemos controlar. Houve quem
quisesse determinar rigorosamente esse limiar e deu-se mal, como sabemos desde
o famoso bug do Excel de Rogoff e Reinhart. Hoje, os economistas são mais
sóbrios. Esse limiar talvez exista mas as circunstâncias que o diferenciam de
país para país e de momento para momento que é preferível aceitar que não o
podemos calcular. Isso não elimina como é óbvio a cautela e os caldos de
galinha.
A leitura da crónica de Skidelski leva-nos a um relatório da McKinsey de 2015 sobre estas matérias que vale a pena considerar pelo menos
para sistematizar evidências. É uma preciosa compatibilização de fontes e isso
poupa muitas pestanas.
A figura que abre este post merece que nos detenhamos
sobre ela. Aí se compara o peso da dívida total no segundo trimestre de 2014
(digamos o stock da dívida total por país nesse momento), registado no eixo dos
XXX, com a variação desse mesmo peso entre 2007 e 2014, registada como
ordenada. No caso de Portugal, essa variação inclui a grande alavancagem de
endividamento registado até ao ajustamento de 2011-2013 e os próprios efeitos
deste último ajustamento. Portugal integra um conjunto de 4 países (3 do
ajustamento, Portugal, Grécia e Irlanda e um outro, Singapura) que se “notabiliza”
quer pelo seu elevado peso de dívida total no PIB, quer pelo aumento
significativo registado no referido período de 2007-2014. Tudo pequenos países,
o que pode explicar o efeito peso, mas já o efeito-variação. Do grupo dos 4,
Portugal e a Grécia são os mais vulneráveis já que não têm a capacidade de
procura externa que a Irlanda e Singapura apresentam. O peso da dívida total é
algo assustador em Portugal: 358% do PIB, ocupando o 4º lugar no ranking
mundial. Embora do ponto de vista do peso, a dívida privada supere a pública (a
esta corresponde 148% do PIB), na variação entre 2007 e 2014 é a dívida pública
que responde por 83% desse aumento, cabendo às empresas o contributo de 19%,
tendo as famílias como se diz agora desalavancado, apresentando um contributo
negativo de -2%.
Em relação a esforços futuros, a McKinsey aponta o
crescimento económico de 3,9% para que Portugal pudesse começar um processo
sustentado de desalavancagem. Com uma previsão de um crescimento médio de 1,4%
para o período 2014-2019, isso significa um esforço adicional de crescimento de
2,5%.
É por todas estas razões que …
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