quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

TUSKO-BREXIT




(A cedência do Conselho Europeu, retratada no draft do documento TUSK, às pretensões de David Cameron para poder defender a permanência do Reino Unido na União em referendo próximo representa a confirmação de uma União Europeia à la carte, em que o menu reflete a dimensão dos poderes em confronto)

É curioso confrontar a reação impressa de dois influentes jornais europeus quanto ao acordo que Cameron parece ter alcançado relativamente à sua negociação com as instituições europeias para poder defender em referendo a permanência do Reino Unido na União Europeia. O referencial para essa interpretação é o draft de decisão de 2 de fevereiro de 2016, EUCO 4/16, assinado pelo presidente do Conselho Europeu, o polaco Donald Tusk.

O Financial Times não hesita em considerar o resultado da negociação “um acordo razoável para manter a Grã-Bretanha no Reino Unido”. Por seu lado, o El País pela pena de um dos seus cronistas políticos mais conhecidos, Xavier Vidal-Folch abre a sua crónica com o seguinte título e subtítulo: “Uma vergonha: tudo é retrocesso – o pior do pacote Tusk é o corte de certos benefícios sociais aos emigrantes comunitários”.

Nesta curta reflexão após a leitura das 16 páginas do acordo-draft, sobreveio esta avaliação de circunstância. Se o projeto europeu fosse neste momento um processo imaculado e de grande democraticidade, estaria aqui a vociferar contra a arrogância britânica e contra a eterna contradição de estar não estando nesse projeto europeu, já que aos britânicos interessa apenas a questão do mercado único e nem sequer o seu alargamento às questões de um mercado de trabalho mais fluido. Mas o projeto europeu é nos últimos tempos tudo menos um projeto de aprofundamento da democracia. Assim sendo, os recortes nacionalistas invocados por Cameron para combater o euroceticismo que se apresentará em força no referendo de 2017 acabam por ser um lance racional de movimentação numa União Europeia à la carte em que o menu reflete a linguagem estrita do poder, sobretudo do poder económico.

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