domingo, 14 de fevereiro de 2016

ISTO ESTÁ A FICAR PRETO!

(Financial Times)



(Conviria começar a ler com mais atenção analistas credíveis como Gavyn Davies e Wolfgang Mϋnchau para compreendermos como a situação internacional e europeia mudaram radicalmente nas últimas semanas)


Gavyn Davies e Wolfgang Mϋnchau são cronistas que estão a anos-luz em termos de credibilidade dos nossos Camilo Lourenço ou José Gomes Ferreira, por exemplo, ou de outras aves que vão picando pela nossa comunicação social. Por isso, vale a pena seguir o seu comentário quando as coisas azedam ou ameaçam azedar. E sabemos (ver posts anteriores) que as coisas azedaram bastante nas últimas semanas, a começar pelos EUA e a acabar na Eurolândia de todos os desconfortos.

O primeiro tem por suporte o trabalho da Fulcrum, uma empresa privada com um potente e original modelo de previsão e simulação, o que torna particularmente relevantes os seus comentários. Neste caso, Davies foca-se na extrema dificuldade com que o FED – USA está neste momento a acomodar as suas próprias previsões, a partir do momento em que as expectativas focadas no comportamento futuro da economia americana não estão em linha com que o FED antecipou para traçar a sua estratégia de aumentos progressivos e graduais da taxa de juro de referência. Davies neste caso explora sobretudo o choque que o dólar tem vindo a experimentar em termos de apreciação face às principais moedas rivais, o qual estará a provocar um aperto do principal indicador de medida das condições financeiras superior ao que o FED esperaria que acontecesse integrando nessa avaliação o efeito da subida das taxas de referência. Ora, o que não se entende muito bem é como é que estando a trajetória de apreciação do dólar em curso já a partir da segunda metade de 2014 se concretiza a subida das taxas de referência dos fins de 2015.

Mas do ponto de vista da avaliação da situação atual o que verdadeiramente interessa é esta simples conclusão: nem a aparente robustez da economia americana consegue acalmar a instabilidade pressentida pelos investidores. Ecoam assim os avisos dos que recomendam que se comece a preparar a próxima recessão, ainda por acima uma estranha e desnecessária recessão.

O artigo de Mϋnchau é mais contundente, pois avisa nada mais menos que os investidores começam a duvidar da capacidade do BCE transformar em atos concretos credíveis as suas determinadas promessas de fazer tudo o que está ao seu alcance para salvar o euro e de cumprir a sua meta-objetivo em termos de inflação a longo prazo. Ora esta música não é propriamente celestial para as preocupações portuguesas. Tudo o que precisávamos agora era de um BCE impotente. Mas dadas as perspetivas de agonia da política monetária para resolver os riscos deflacionários europeus, sobretudo do ponto de vista de dispensar a intervenção da política fiscal, não é coisa que deva estar fora do radar da nossa atenção. Mϋnchau sempre foi muito crítico das instituições europeias por não terem levado até onde deviam o saneamento dos bancos europeus. Curiosamente, interpreta a queda abrupta do valor acionário dos bancos europeus não apenas como resultado das taxas de juro negativas e dos efeitos penalizadores sobre a sua rendibilidade, mas essencialmente como resultado da falência das autoridades europeias em levarem a união bancária até às suas últimas consequências. E continua severo na avaliação das razões: são erros demais não levar a união bancária até ao fim e simultaneamente insistir em políticas fiscais restritivas, ambos os erros com um selo alemão na sua origem.

O mundo económico começa a não recomendar-se. No meio de tanta turbulência potencial, fazer-se notar e atrair as atenções parece não ser uma boa escolha. Não é propriamente fazer-se de morto, mas evitar exposição que nos vulnerabilize parece ser uma boa opção para nossa orientação.

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