(Financial Times)
(Conviria começar a
ler com mais atenção analistas credíveis como Gavyn Davies e Wolfgang Mϋnchau para compreendermos como a situação
internacional e europeia mudaram radicalmente nas últimas semanas)
Gavyn Davies e Wolfgang Mϋnchau são cronistas que estão a
anos-luz em termos de credibilidade dos nossos Camilo Lourenço ou José Gomes Ferreira,
por exemplo, ou de outras aves que vão picando pela nossa comunicação social. Por
isso, vale a pena seguir o seu comentário quando as coisas azedam ou ameaçam
azedar. E sabemos (ver posts anteriores) que as coisas azedaram bastante nas últimas
semanas, a começar pelos EUA e a acabar na Eurolândia de todos os desconfortos.
O primeiro tem por suporte o trabalho da Fulcrum, uma empresa
privada com um potente e original modelo de previsão e simulação, o que torna
particularmente relevantes os seus comentários. Neste caso, Davies foca-se na
extrema dificuldade com que o FED – USA está neste momento a acomodar as suas
próprias previsões, a partir do momento em que as expectativas focadas no comportamento
futuro da economia americana não estão em linha com que o FED antecipou para
traçar a sua estratégia de aumentos progressivos e graduais da taxa de juro de
referência. Davies neste caso explora sobretudo o choque que o dólar tem vindo
a experimentar em termos de apreciação face às principais moedas rivais, o qual
estará a provocar um aperto do principal indicador de medida das condições
financeiras superior ao que o FED esperaria que acontecesse integrando nessa
avaliação o efeito da subida das taxas de referência. Ora, o que não se entende
muito bem é como é que estando a trajetória de apreciação do dólar em curso já a
partir da segunda metade de 2014 se concretiza a subida das taxas de referência
dos fins de 2015.
Mas do ponto de vista da avaliação da situação atual o
que verdadeiramente interessa é esta simples conclusão: nem a aparente robustez
da economia americana consegue acalmar a instabilidade pressentida pelos
investidores. Ecoam assim os avisos dos que recomendam que se comece a preparar
a próxima recessão, ainda por acima uma estranha e desnecessária recessão.
O artigo de Mϋnchau é mais contundente, pois avisa nada
mais menos que os investidores começam a duvidar da capacidade do BCE transformar
em atos concretos credíveis as suas determinadas promessas de fazer tudo o que
está ao seu alcance para salvar o euro e de cumprir a sua meta-objetivo em termos de inflação a longo prazo.
Ora esta música não é propriamente celestial para as preocupações portuguesas. Tudo
o que precisávamos agora era de um BCE impotente. Mas dadas as perspetivas de
agonia da política monetária para resolver os riscos deflacionários europeus,
sobretudo do ponto de vista de dispensar a intervenção da política fiscal, não é
coisa que deva estar fora do radar da nossa atenção. Mϋnchau sempre foi muito
crítico das instituições europeias por não terem levado até onde deviam o
saneamento dos bancos europeus. Curiosamente, interpreta a queda abrupta do
valor acionário dos bancos europeus não apenas como resultado das taxas de juro
negativas e dos efeitos penalizadores sobre a sua rendibilidade, mas
essencialmente como resultado da falência das autoridades europeias em levarem
a união bancária até às suas últimas consequências. E continua severo na
avaliação das razões: são erros demais não levar a união bancária até ao fim e
simultaneamente insistir em políticas fiscais restritivas, ambos os erros com
um selo alemão na sua origem.
O mundo económico começa a não recomendar-se. No meio de
tanta turbulência potencial, fazer-se notar e atrair as atenções parece não ser
uma boa escolha. Não é propriamente fazer-se de morto, mas evitar exposição que
nos vulnerabilize parece ser uma boa opção para nossa orientação.
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