domingo, 21 de fevereiro de 2016

VIGO AO RUBRO



(Está o caldo entornado no Eixo Atlântico, nada que me espante, pois a cooperação no sistema aeroportuário da Euroregião sempre foi “wishful thinking” do mais impuro e ingénuo)


Ao Presidente Rui Moreira saltou-lhe a tampa e a disposição para a linguagem brejeira. Abel Caballero não é flor que se cheire e entre os presidentes de ayuntamiento que passaram por Vigo talvez tenha sido um dos que mais animosidade manifestou em relação a uma efetiva Euroregião, embora tenha ganho os seus “cartos” em alguns estudos para o Eixo Atlântico.

O Faro de Vigo de hoje dedica duas páginas inteiras ao assunto do triângulo de infidelidades TAP (Lisboa) – Porto (Sá Carneiro) e Vigo (Peinador) e a longa reportagem é bem representativa da posição política do Presidente de Vigo. A tese, ardilosa diga-se, é mais ou menos esta: houve em Portugal um vasto plano, com forte intervenção governamental e adesão de algumas forças económicas regionais do Norte, para engordar o aeroporto de Sá Carneiro, alargar a sua área de influência à Galiza e assim emagrecer o raquítico aeroporto de Vigo (Peinador). Como é óbvio, a causalidade não é assim tão imediata e o jornalista Alberto Blanco mete pelo meio uma grande cotovelada ao governo regional da Galiza, que apoiando-se na centralidade que pretendia dar ao aeroporto de Santiago de Compostela (Lavacolla), terá baixado a guarda e não se ter chegado à frente com “cartos” que chegassem para que as low cost, sobretudo a Ryanair, descolasse e não voltasse aos aeroportos galegos.

Claro que Alberto Blanco não é ingénuo ao ponto de admitir que o universo da atração de hubs ou intensidade de rotas de companhias “low-cost” seja um simples produto das relações de mercado. Trata-se de um risco que é perfeitamente conhecido e é uma questão de escolhas públicas alocar recursos que subsidiem por via do turismo a preferência que tais companhias dedicam a um determinado aeroporto. Já há muito que a Ryanair e a Easy Jet ultrapassaram em conjunto a presença da TAP no Sá Carneiro e sabemos também que este tem mais tráfego do que todos os aeroportos galegos. Aliás, é um grande mistério que uma região como a Galiza se dê ao luxo de manter três aeroportos, mas como é sabido isso resulta das incidências da política regional nas decisões do governo de Madrid e da Xunta, como é por exemplo absurdo que existam dois portos de mar com a envergadura da Corunha e do Ferrol praticamente na mesma área de influência. Aliás, em trabalhos para o Eixo Atlântico, designadamente no mais recente que versava sobre as infraestruturas para a competitividade, as entrevistas que tive no Peinador e em Lavacolla mostraram que aqueles aeroportos estavam a anos-luz de poderem ter uma estratégia regional de grande concertação com as forças económicas regionais. Pressionado a norte por Lavacolla e a sul pela força expansiva do Sá Carneiro, o raquitismo do Peinador é algo que teria de incomodar o ego e a ambição de Caballeriro e que viu neste assunto uma fonte de tiro ao alvo na Xunta da Galiza. E claro que encontrou numa TAP incapaz de perceber o território nacional na sua diversidade, disposta a contrariar a sua perda progressiva de influência no Sá Carneiro, oferecendo aos galegos o que alguma da sua inteligência e poder económico sempre quis, as relações com Lisboa, também cansados da inépcia da CCDR-N que para dar um espirro tem de pedir licença à tutela (estranhamente com mais autonomia para proteger e promover os seus apaniguados, incluindo empresas de serviços de consultoria).

Rui Moreira talvez estivesse com os azeites e utilizasse uma linguagem evitável. Mas a sua reação firme é fundamental e talvez alerte alguns dos seus colegas para os quais cooperar se limita a umas receções e almoços, normalmente prolongados quando são na Galiza, e a muito pouco sentido estratégico dos interesses regionais. E bem pode o Faro de Vigo publicar algumas inventonas, carpir mágoas, que o Peinador não deixará de ser raquítico e não é o ego de Caballero que o vai engordar.

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