(Está o caldo entornado
no Eixo Atlântico, nada
que me espante, pois a cooperação no sistema aeroportuário da Euroregião sempre
foi “wishful thinking” do mais impuro e ingénuo)
Ao Presidente Rui Moreira saltou-lhe a tampa e a disposição
para a linguagem brejeira. Abel Caballero não é flor que se cheire e entre os
presidentes de ayuntamiento que
passaram por Vigo talvez tenha sido um dos que mais animosidade manifestou em
relação a uma efetiva Euroregião, embora tenha ganho os seus “cartos” em alguns
estudos para o Eixo Atlântico.
O Faro de Vigo de hoje dedica duas páginas inteiras ao assunto
do triângulo de infidelidades TAP (Lisboa) – Porto (Sá Carneiro) e Vigo (Peinador)
e a longa reportagem é bem representativa da posição política do Presidente de
Vigo. A tese, ardilosa diga-se, é mais ou menos esta: houve em Portugal um
vasto plano, com forte intervenção governamental e adesão de algumas forças
económicas regionais do Norte, para engordar o aeroporto de Sá Carneiro,
alargar a sua área de influência à Galiza e assim emagrecer o raquítico
aeroporto de Vigo (Peinador). Como é óbvio, a causalidade não é assim tão imediata
e o jornalista Alberto Blanco mete pelo meio uma grande cotovelada ao governo
regional da Galiza, que apoiando-se na centralidade que pretendia dar ao aeroporto
de Santiago de Compostela (Lavacolla), terá baixado a guarda e não se ter chegado
à frente com “cartos” que chegassem para que as low cost, sobretudo a Ryanair, descolasse e não voltasse aos aeroportos
galegos.
Claro que Alberto Blanco não é ingénuo ao ponto de admitir
que o universo da atração de hubs ou intensidade de rotas de companhias “low-cost” seja um simples produto das
relações de mercado. Trata-se de um risco que é perfeitamente conhecido e é uma
questão de escolhas públicas alocar recursos que subsidiem por via do turismo a
preferência que tais companhias dedicam a um determinado aeroporto. Já há muito
que a Ryanair e a Easy Jet ultrapassaram em conjunto a presença da TAP no Sá
Carneiro e sabemos também que este tem mais tráfego do que todos os aeroportos
galegos. Aliás, é um grande mistério que uma região como a Galiza se dê ao luxo
de manter três aeroportos, mas como é sabido isso resulta das incidências da
política regional nas decisões do governo de Madrid e da Xunta, como é por
exemplo absurdo que existam dois portos de mar com a envergadura da Corunha e
do Ferrol praticamente na mesma área de influência. Aliás, em trabalhos para o Eixo
Atlântico, designadamente no mais recente que versava sobre as infraestruturas
para a competitividade, as entrevistas que tive no Peinador e em Lavacolla
mostraram que aqueles aeroportos estavam a anos-luz de poderem ter uma estratégia
regional de grande concertação com as forças económicas regionais. Pressionado
a norte por Lavacolla e a sul pela força expansiva do Sá Carneiro, o raquitismo
do Peinador é algo que teria de incomodar o ego e a ambição de Caballeriro e
que viu neste assunto uma fonte de tiro ao alvo na Xunta da Galiza. E claro que
encontrou numa TAP incapaz de perceber o território nacional na sua diversidade,
disposta a contrariar a sua perda progressiva de influência no Sá Carneiro, oferecendo
aos galegos o que alguma da sua inteligência e poder económico sempre quis, as
relações com Lisboa, também cansados da inépcia da CCDR-N que para dar um
espirro tem de pedir licença à tutela (estranhamente com mais autonomia para
proteger e promover os seus apaniguados, incluindo empresas de serviços de
consultoria).
Rui Moreira talvez estivesse com os azeites e utilizasse uma
linguagem evitável. Mas a sua reação firme é fundamental e talvez alerte alguns
dos seus colegas para os quais cooperar se limita a umas receções e almoços,
normalmente prolongados quando são na Galiza, e a muito pouco sentido estratégico
dos interesses regionais. E bem pode o Faro de Vigo publicar algumas inventonas,
carpir mágoas, que o Peinador não deixará de ser raquítico e não é o ego de Caballero
que o vai engordar.
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