quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

ATENÇÃO AO DEUTSCHE!

(Deutsche Bank)


(Será de uma turbulência mais geral que estamos a falar ou o banco alemão está mesmo com problemas sérios?)


Os mercados financeiros estão agitados e já há apressados e impacientes comentadores apostados em aí encontrar uma razão de desconfiança dos instáveis mercados para com a engenharia orçamental do governo de Costa. O problema existe e tem essencialmente duas dimensões, embora possa integrar outras por agora menos conhecidas. Em primeiro lugar, os bancos europeus e não apenas o Deutsche Bank estão a atravessar uma grande perda de valor nas suas ações (ver gráfico acima). Aparentemente, a habilidade das taxas de juro negativas está a deixar nervosos os investidores com ações dessa mesma banca, talvez incorporando os efeitos do nó górdio de uma situação macroglobal sobre a qual tem havido demasiada indiferença e ortodoxia. Em segundo lugar, os yields da dívida pública parecem particularmente a 10 anos começar a revelar sinais de aversão ao risco, com os investidores a preferir os títulos de países com menor risco em detrimento dos que apresentam maior risco. Portugal leva por tabela, sendo penalizado juntamente com a Itália, Espanha e Grécia e em relação às duas primeiras sofre também os efeitos da sua maior fragilidade.


Não quero significar com isto que o facto não seja penalizador para Portugal. Mas que se trata de algo mais amplo, cuja deterioração não deixa de incorporar a fragilidade portuguesa, parece não haver dúvida sobre essa matéria.

A grande maioria dos analistas considera que os investidores estão a antecipar quebras de lucros na banca por força das sucessivas entradas em terreno negativo das taxas de referência dos bancos centrais, primeiro o Japão e mais recentemente a Suécia. Não é ciência certa que isso possa acontecer, mas a verdade é que os investidores estão a incorporar essa possibilidade. Mas para além disso há a procura de liquidez que tem levado a uma desenfreada venda de ações nos EUA precipitando a queda da bolsa. John Authers fala no Financial Times da chamada reflexividade dos mercados, com estes a desenhar uma perceção que conduz a novas vendas de stocks de ações com os reflexos conhecidos.

Por outro lado, o FED–USA meteu-se numa grande embrulhada com a sua subida da taxa de referência de fins de dezembro passado. A minha favorita Gillian Tett não hesita em afirmar que a grande maioria dos gestores de ativos hoje pensa que o FED vai ser obrigado a inverter a sua política, não sendo inclusivamente de rejeitar uma caminhada para taxas de juro negativas, também o FED caros senhores. Como isto muda e tão depressa!

Um ciclo de pessimismo financeiro autodestrutivo pode estar a caminho e daí à economia real é um pequeno passo.

Com este estado de coisas a moer-nos a cachola, Chris Dillow do Stumbling and Mumbling faz-me reler um texto de cabeceira, datado de 1943, que passou pela minha formação deixando marcas: “Political Aspects of Full Employment” do economista polaco Michael Kalecki.

E é uma boa citação para estes dias:

Num sistema de laissez-faire o nível do emprego depende em grande medida do assim chamado nível de confiança... Isto proporciona aos capitalistas um controlo indireto poderoso sobre a política governamental: tudo que possa comprometer o estado de confiança deve ser cuidadosamente evitado porque gerará uma crise económica. Mas uma vez que o governo aprenda a possibilidade de aumentar o emprego através das suas próprias compras, esse dispositivo poderoso de controlo perde a sua eficácia. Por isso, os défices públicos necessários para assegurar a intervenção do governo devem ser olhados como perigosos. A função social da doutrina das “finanças saudáveis” é fazer que o nível de emprego dependa do tal estado de confiança.”

Mas que sabedoria!

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