(Deutsche Bank)
(Será de uma
turbulência mais geral que estamos a falar ou o banco alemão está mesmo com problemas sérios?)
Os mercados financeiros estão agitados e já há apressados
e impacientes comentadores apostados em aí encontrar uma razão de desconfiança dos
instáveis mercados para com a engenharia orçamental do governo de Costa. O
problema existe e tem essencialmente duas dimensões, embora possa integrar
outras por agora menos conhecidas. Em primeiro lugar, os bancos europeus e não
apenas o Deutsche Bank estão a atravessar uma grande perda de valor nas suas ações
(ver gráfico acima). Aparentemente, a habilidade das taxas de juro negativas
está a deixar nervosos os investidores com ações dessa mesma banca, talvez
incorporando os efeitos do nó górdio de uma situação macroglobal sobre a qual
tem havido demasiada indiferença e ortodoxia. Em segundo lugar, os yields da dívida
pública parecem particularmente a 10 anos começar a revelar sinais de aversão
ao risco, com os investidores a preferir os títulos de países com menor risco
em detrimento dos que apresentam maior risco. Portugal leva por tabela, sendo
penalizado juntamente com a Itália, Espanha e Grécia e em relação às duas
primeiras sofre também os efeitos da sua maior fragilidade.
Não quero significar com isto que o facto não seja penalizador
para Portugal. Mas que se trata de algo mais amplo, cuja deterioração não deixa
de incorporar a fragilidade portuguesa, parece não haver dúvida sobre essa matéria.
A grande maioria dos analistas considera que os investidores
estão a antecipar quebras de lucros na banca por força das sucessivas entradas
em terreno negativo das taxas de referência dos bancos centrais, primeiro o Japão
e mais recentemente a Suécia. Não é ciência certa que isso possa acontecer, mas
a verdade é que os investidores estão a incorporar essa possibilidade. Mas para
além disso há a procura de liquidez que tem levado a uma desenfreada venda de ações
nos EUA precipitando a queda da bolsa. John Authers fala no Financial Times da
chamada reflexividade dos mercados, com estes a desenhar uma perceção que
conduz a novas vendas de stocks de ações com os reflexos conhecidos.
Por outro lado, o FED–USA meteu-se numa grande embrulhada
com a sua subida da taxa de referência de fins de dezembro passado. A minha favorita Gillian Tett não hesita em afirmar que a grande maioria dos gestores
de ativos hoje pensa que o FED vai ser obrigado a inverter a sua política, não
sendo inclusivamente de rejeitar uma caminhada para taxas de juro negativas,
também o FED caros senhores. Como isto muda e tão depressa!
Um ciclo de pessimismo financeiro autodestrutivo pode estar
a caminho e daí à economia real é um pequeno passo.
Com este estado de coisas a moer-nos a cachola, Chris Dillow do Stumbling and Mumbling faz-me reler um texto de cabeceira, datado de 1943,
que passou pela minha formação deixando marcas: “Political Aspects of Full
Employment” do economista polaco Michael Kalecki.
E é uma boa citação para estes dias:
“Num sistema de laissez-faire
o nível do emprego depende em grande medida do assim chamado nível de confiança...
Isto proporciona aos capitalistas um controlo indireto poderoso sobre a política
governamental: tudo que possa comprometer o estado de confiança deve ser
cuidadosamente evitado porque gerará uma crise económica. Mas uma vez que o
governo aprenda a possibilidade de aumentar o emprego através das suas próprias
compras, esse dispositivo poderoso de controlo perde a sua eficácia. Por isso,
os défices públicos necessários para assegurar a intervenção do governo devem
ser olhados como perigosos. A função social da doutrina das “finanças saudáveis”
é fazer que o nível de emprego dependa do tal estado de confiança.”
Mas que sabedoria!
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