segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

OS DIÁLOGOS DE KARLSRUHE – PESSOAS


Volto então aos “Diálogos”, após uma curta visita a Karlsruhe e Baden-Baden, onde o Palácio e o Casino (respetivamente) dominam como principais atrações. E começo pelas pessoas que neste fim de semana mais me impressionaram, obviamente por razões bem diversas umas das outras: (i) num plano filosófico-político, a imensa sabedoria de Oskar Negt; (ii) na área económica propriamente dita, Philippe Legrain e a sua já razoavelmente conhecida denúncia da mess em que estão transformadas a União Europeia e a Zona Euro; (iii) em termos de análise da situação na Europa Oriental, e especialmente na Polónia e Hungria, os seus nacionais respetivos Ireneusz Paweł Karolewski e Lajos Bokros; (iv) à direita, o intrigante e espertíssimo ultraconservador britânico Anthony Glees; (v) à esquerda, sustentando posições culturalmente sustentadas e diferentemente radicais, três interessantes mulheres ligadas ao jornalismo e à escrita (a turca Ece Temelkuran, a alemã Ulrike Guérot e a sueca Lisa Bjurwald).

Passo de seguida a uma breve inventariação de algumas ideias e informações que retive destes conferencistas. Negt trouxe aos debates o incomparável perfume do pensamento de Habermas (de quem aliás foi assistente, apesar de num quadro relacional instável) e uma particular elaboração em torno da atual ordem constitucional europeia associada à interrogação central em torno do que é realmente a Europa (collective learning project). Legrain clarificou junto dos presentes o seu diagnóstico de uma União Europeia em crise múltipla, focando-se especialmente na catastrófica política económica que desde 2008 vem caraterizando a Zona Euro (wrong turn, assim lhe chamou, sublinhando o pecado de um pro-creditor bias e as suas implicações em termos de criação de conflitos graves entre nações) e na procura de apontar alguns caminhos viáveis no sentido positivo. Karolewski explicou-nos a Polónia de hoje, porque é que só existem partidos nacionalistas, conservadores e populistas no seu parlamento, porque é que o PiS no poder não deve ser confundido com o partido de Órban que governa a Hungria (nem no que toca à sua crença dominantemente democrática nem em termos de posicionamento europeu nem quanto às suas distâncias em relação à Rússia, aspetos que Bokros corroborou e a que ainda acrescentou a perspetiva de uma agenda russa de desestabilização europeia a partir da sua intervenção militar na Síria) e qual a encruzilhada (largamente económica) com que está atualmente defrontada. Glees criticou Merkel sobre a questão dos refugiados e trouxe-nos a peregrina ideia de um financiamento europeu de campos first class junto aos países de origem dos migrantes, tentando ainda sustentar a centralidade da questão do segurança nas fronteiras (e não do seu controlo, quis acentuar) na atual conjuntura política europeia. Ece, Ulrike e Lisa falaram-nos de uma Turquia à deriva sob o autoritário comando de um perigoso e todo-poderoso Erdogan e do conceito determinante de dignidade, do atual political and emotional jam que é a atual União Europeia e da necessidade de se trabalhar na construção de um projeto alternativo valorizador da cidadania individual e da soberania nacional (uma “República Europeia”) e de uma Escandinávia avassaladoramente dominada por medos individuais e institucionais, todas deixando bem à vista a marcada distância que vai da importância dos seus discursos e práticas contra a intolerância à relativa incipiência da respetiva apreensão e expressão política. Gente - esta e mais alguma que por lá esteve - que valeu a pena ouvir e conhecer!

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