quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

HARDER FOR THE BAD GUYS



O “Financial Times” fazia há dias capa com um tema que vai suscitando uma significativa convergência entre autoridades e especialistas criminais, responsáveis políticos e gente da academia: a ideia de existirem crescentemente justificadas razões para proibir/tirar de circulação as chamadas high-denominated notes (HDN). Os factos mais recentemente dados a conhecer na matéria decorrem de um interessante paper da “Harvard Kennedy School” da autoria de Peter Sands (“Making it Harder for the Bad Guys: The Case for Eliminating High Denomination Notes”) e do anúncio da Comissão Europeia (aliás em linha com várias outras instituições internacionais) de que iria investigar o papel das notas de 500 euros numa perspetiva de até maio propor medidas a implementar pelo BCE no sentido de um contributo para o combate ao terrorismo financeiro.

Retenham-se sinteticamente as seguintes componentes da questão: (i) foi estimado que os fluxos monetários ilícitos ascendam à pornográfica brutalidade de 2 biliões de dólares anuais; (ii) será sobretudo por razões associadas a uma maior facilidade de transporte que os criminosos tendem a procurar as ditas HDN, assim também designadas por “moeda das elites corruptas” – com efeito, e como refere Sands, uma soma de 250 mil libras esterlinas em notas de 10 e 20 pesa em torno de 20 quilos e só pode ser transportada num saco de ginástica, enquanto essa mesma soma em notas de 500 euros pesa apenas 600 gramas e cabe num mero envelope A4; (iii) está longe de ser simples chegar-se a consensos à escala internacional, o que se compreende se tivermos em conta que os diferentes países são muito desigualmente prolíficos em termos de circulação monetária e, em particular, de produção de HDN (dois casos notórios são o Japão, seguramente muito por razões culturais, e o extremado exemplo europeu do Luxemburgo, seguramente muito por razões não tão transparentes assim; em concreto, o volume de notas em circulação neste país equivale a cerca do dobro do seu PIB, contra 16% para a Alemanha, 4% para a França e pouco mais de 2% na Suécia); (iv) surgiu por estes dias, através de uma intervenção do conhecido falcão alemão Hans-Werner Sinn, um argumento alternativamente subjacente à abolição das notas de 500 euros: a alegada vontade do BCE de reduzir ainda mais negativamente as taxas de juro e o facto de os custos de guardar dinheiro sob a forma líquida serem naturalmente tanto maiores quanto mais pequenas forem as denominações.

Sublinhando que as notas de 500 euros representam quase 30% das notas em circulação na Zona Euro (mas quantos cidadãos já terão visto uma?), quero simplesmente terminar com duas imagens que sinalizam reações prováveis de serem encontradas na vida de todos os dias perante o previsível paper loss que está em estudo e se recomenda.

(R. Reimão e Aníbal F, Elias O Sem Abrigo”, http://www.jn.pt)

(Kipper Williams, http://www.guardian.co.uk)

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