segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

A CAPITULAÇÃO DE HOLLANDE É TAMBÉM UMA DERROTA DA ECONOMIA DE OFERTA




(Desde as comemorações da sua vitória em Paris, sobretudo na Praça da Bastilha, até à saída pela porta pequena, há toda uma desilusão, mas há também a convicção de que François Hollande tomou a posição errada na compreensão económica dos caminhos da França…)

A ilusão romântica dos homens de esquerda paga-se normalmente caro. Mas sou um incorrigível esperançoso por projetos como o que determinou a vitória de Hollande e confesso que as comemorações da vitória aumentaram a intensidade dessa ilusão.

Hoje, que é possível dar de frente com a saída pela porta pequena de um projeto que prometeu alguma coisa e não acrescentou praticamente nada, é tempo de gerir a desilusão e, pelo menos, analisar criticamente o que se passou.

Francesco Saraceno tem, no Sparse Thoughts of a Gloomy European Economist, uma peça interessante sobre os erros de palmatória de política económica que Hollande patrocinou, sobretudo quando se desprendeu do seu programa eleitoral. Provocatoriamente, Saraceno chama-lhe Jean-Baptiste Hollande, numa equiparação algo assassina a Jean-Baptiste Say, pai e inspirador da célebre Lei de Say, que sustenta o primado da oferta (que criaria a sua própria procura). De facto, o mandato de Hollande foi marcado pelo primado da economia da oferta, ignorando que a França e a Europa viviam um problema de insuficiência estrutural de procura e que, nesse contexto, privilegiar intervenções estruturais sobre a oferta sem ter resolvido a insuficiência estrutural de procura é fatal e recessivo.

É conhecida a decisão de conceder às empresas franceses uma folga fiscal, reduzindo impostos, redução estimada em 20.000 milhões de euros, acompanhada de uma mais que proporcional subida de impostos sobre as famílias, estimada em 35.000 milhões de euros. Esta redução de impostos não foi acompanhada por aumento de despesa pública, reduzindo compreensivelmente o défice público. A procura e o crescimento responderam compreensivelmente com queda e assim crescimento diminuto e estabilidade do emprego conduziram à baixíssima taxa de aprovação de Hollande, que precipitou a saída pela porta pequena.

O homem parece assim mais hábil na condução na sua motoreta furtiva pelas noites lascivas de Paris do que propriamente na gestão macroeconómica. Ninguém ignora que a França necessitaria de mais flexibilidade social e organizativa. Mas precipitar as medidas de economia da oferta em tempos de insuficiência estrutural de procura acaba por anular a eventual bondade das primeiras, precipitar a recessão e traçar um atalho para a tal porta pequena que as comemorações da vitória da Bastilha não mereciam.

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