(Desde as comemorações
da sua vitória em Paris, sobretudo na Praça da Bastilha, até à saída pela porta
pequena, há toda uma desilusão, mas há também a convicção de que François Hollande tomou a posição errada
na compreensão económica dos caminhos da França…)
A ilusão romântica dos homens de esquerda paga-se normalmente caro. Mas sou
um incorrigível esperançoso por projetos como o que determinou a vitória de
Hollande e confesso que as comemorações da vitória aumentaram a intensidade
dessa ilusão.
Hoje, que é possível dar de frente com a saída pela porta pequena de um
projeto que prometeu alguma coisa e não acrescentou praticamente nada, é tempo
de gerir a desilusão e, pelo menos, analisar criticamente o que se passou.
Francesco Saraceno tem, no Sparse Thoughts of a Gloomy European Economist, uma peça interessante sobre os erros de palmatória de política económica que Hollande patrocinou, sobretudo quando se
desprendeu do seu programa eleitoral. Provocatoriamente, Saraceno chama-lhe
Jean-Baptiste Hollande, numa equiparação algo assassina a Jean-Baptiste Say, pai
e inspirador da célebre Lei de Say, que sustenta o primado da oferta (que
criaria a sua própria procura). De facto, o mandato de Hollande foi marcado
pelo primado da economia da oferta, ignorando que a França e a Europa viviam um
problema de insuficiência estrutural de procura e que, nesse contexto, privilegiar
intervenções estruturais sobre a oferta sem ter resolvido a insuficiência
estrutural de procura é fatal e recessivo.
É conhecida a decisão de conceder às empresas franceses uma folga fiscal,
reduzindo impostos, redução estimada em 20.000 milhões de euros, acompanhada de
uma mais que proporcional subida de impostos sobre as famílias, estimada em 35.000
milhões de euros. Esta redução de impostos não foi acompanhada por aumento de
despesa pública, reduzindo compreensivelmente o défice público. A procura e o
crescimento responderam compreensivelmente com queda e assim crescimento diminuto
e estabilidade do emprego conduziram à baixíssima taxa de aprovação de Hollande,
que precipitou a saída pela porta pequena.
O homem parece assim mais hábil na condução na sua motoreta furtiva pelas noites
lascivas de Paris do que propriamente na gestão macroeconómica. Ninguém ignora
que a França necessitaria de mais flexibilidade social e organizativa. Mas
precipitar as medidas de economia da oferta em tempos de insuficiência estrutural
de procura acaba por anular a eventual bondade das primeiras, precipitar a recessão
e traçar um atalho para a tal porta pequena que as comemorações da vitória da
Bastilha não mereciam.
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