sábado, 3 de dezembro de 2016

TRUMP EM AÇÃO




(Aparentemente 1.000 postos de trabalho retidos em Indianopolis, mas sobretudo os sinais de uma política económica relativamente à qual será difícil associar regras previsíveis e estabilizadoras, esta parece ser a principal característica expectável para o capitalismo americano na era Trump …)

O New York Times de 1 de dezembro de 2016 dedicou-lhe um artigo importante (ver link aqui), Larry Summers zurziu na destruição de regras fundamentais de clarificação de expectativas na economia americana (ver link aqui) e a blogosfera económica esta “on fire” com o que se antecipa para a política económica da era Trump.

A história conta-se facilmente. A CARRIER é uma empresa de grande dimensão no domínio do aquecimento e refrigeração que planeara o deslocamento de cerca de 2.000 postos de trabalho para o México, na sequência das conhecidas estratégias de deslocalização de investimentos da economia americana para outros países. Na linha do que tinha avançado em plena campanha eleitoral, Trump terá negociado ou imposto um acordo com a CARRIER, no âmbito do qual o recém-eleito Presidente americano canta vitória pela retenção em Indianopolis de cerca de 800 a 1.000 postos de trabalho, algo em torno de 0,2% apenas do total de empregos ma indústria transformadora de Indiana. Enquanto anunciava a sua “proeza”, Trump fez uma espécie de ameaça, mais real do que velada, a outros empresários americanos de que a partir de agora iria ser assim. Será escusado dizer que a “populaça” de Indianapolis terá rejubilado, particularmente as famílias que iriam ser diretamente atingidas pela deslocalização dos postos de trabalho. Imagina-se que no México, destino da deslocalização, terá havido uma reação de sentido contrário.

O debate emergiu essencialmente depois dos contornos do acordo terem sido tornados públicos. Pelo que se sabe, a imposição à CARRIER teve por suporte um incentivo de 7 milhões de dólares, saído dos cofres do estado de Indiana. Mas, na prática, segundo o New York Times, o incentivo terá sido acompanhado de ameaça de suspensão de contratos à United Technologies, empresa ligada à CARRIER. Imagina-se a série de incentivos e ameaças que vão multiplicar-se com outras empresas com projetos de deslocalização de investimentos e unidades acaso as promessas de Trump sejam cumpridas.

É neste contexto que se compreendem as fortes críticas de Larry Summers a este tipo de exercício da política económica, no fundo um hino ao discricionarismo puro e simples e favorecedor de uma falta de escrutínio absoluto das condições que podem ser negociadas por debaixo da mesa. Mas o operariado de Indiana aplaude, e a população em geral do Estado também pelo pendor nacionalista da coisa, embora não compreenda que por detrás deste intervencionismo de pacotilha pode estar em marcha, como o diz Summers, uma profunda alteração das regras de funcionamento do capitalismo americano. Dirão os economistas institucionalistas, e a escola institucionalista americana tem representantes excelentes, que a destruição de regras que regulam a confiança e o escrutínio dos mercados acabará por conduzir o sistema para caminhos ínvios e claramente incompatíveis com uma democracia económica moderna. Mas com grande respaldo popular, o que é trágico e preocupante.

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