(Era um
rompimento anunciado, mas está agora confirmado, o PP espanhol está ao rubro,
com o afastamento entre Rajoy e Aznar, não se percebendo o que pretende este
último do ponto de vista político, mas de qualquer modo é para mim irrecusável emitir opinião em casa
alheia…)
Sou pouco propenso a diabolizações em política. Tenho um universo reduzido
de inimigos públicos de estimação. Nesse grupo restrito, os critérios de
inclusão são até mais de aspetos de personalidade do que propriamente de
pensamento político. Incomodam-me sobretudo os que em linguagem sábia e popular
se chamam os “merdeiros” da política, muita presunção, por vezes com água benta
misturada, arrogância quanto baste, quase sempre características cristalizadas
em torno de competências mais do que interrogadas, por vezes invisíveis.
Pois, desde 2003, ano em que Aznar abriu a sua sucessão a Mariano Rajoy, o
distanciamento entre os dois personagens políticos tem evoluído em crescendo, a
ponto de Aznar utilizar a sua Fundação para zurzir no governo e pedir sobretudo
mais contundência em relação à Catalunha e, ainda recentemente, ter abdicado da
presidência de honra do partido.
Em termos de pensamento político estruturado, não é fácil compreender a
posição de Aznar. Utilizando a linguagem da política monetária americana, Aznar
é seguramente mais falcão do que Rajoy. Rodeado de processos de corrupção por
tudo que cheira a PP, Rajoy tem pelo menos conseguido impor aquela ideia terrífica
“de todos me enganam” e “acreditem em mim não tenho nada que ver com os
salpicos de corrupção que me surgem no caminho”. Mais desajeitado do que convincente,
Rajoy tem conseguido mostrar que não se tem servido da política para benefício
próprio. O modo estoico como aguentou o prolongado processo de formação de
governo e foi jogando com a evolução da situação macroeconómica que lhe era
francamente favorável deu-lhe o benefício da dúvida junto do eleitorado
espanhol, proporcionando-lhe sondagens que lhe foram claramente favoráveis.
Não é totalmente claro o que levou Aznar ao confronto e ao rompimento com a
orientação atual do PP. Será que o homem está convencido que pode voltar ao
local do crime e disputar um PP mais duro e firme com as autonomias,
principalmente com a Catalunha? A imagem de Aznar com Blair e Bush na Ilha
Terceira nos Açores, alcovitados por Durão Barroso, defendendo a existência das
armas de destruição massiva no Iraque, tão cedo desaparecerá das nossas memórias
e aquele bigode encavalitado de Aznar ajuda a manter essa imagem.
Na imagem e na pose de Aznar estão depositadas muitas das características
que detesto na política. Se a isso fosse obrigado até seria capaz de votar
Rajoy por supuesto, simplesmente com o prazer de manter o bigodinho longe da
política.
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