(Já não tinha
dúvidas de que o meu colega, amigo e ministro Augusto Santos Silva era a
personalidade mais camiliana do Governo e até do PS. Mas o bate boca com ministro
Vieira da Silva, apanhado nas malhas de um microfone intrusivo a comparar a
concertação social à negociação numa feira de gado, ultrapassa todas as evidências e põe-me a
pensar…)
Não lembraria ao diabo que para elogiar o trabalho insano do ministro
Vieira da Silva fosse necessário erguê-lo à qualidade de negociante férreo de
uma feira de gado. Imagina-se que o bate boca poderia ter sido travado com
outro elemento masculino do Governo. Não consigo imaginar tal conversa com uma
Francisca Van Dunem, uma Maria Manuel Leitão Marques ou uma Constança Urbano de
Sousa ou mesmo Ana Paula Vitorino. As imagens mostram que o bate boca foi uma
forma desajeitada de felicitar o ministro responsável pelo acordo na concertação
social, com a presença tutelar de Ferreira o homem dos eventos no PS. Por outro
lado, não anteciparia que Augusto Santos Silva fosse tão conhecedor do ambiente
negocial de uma feira de gado, mas tenho de concordar que a sociologia é um
mundo fascinante, sobretudo quando combinada com o espírito camiliano de que
tem dado provas. Fico com curiosidade em imaginar o que pode ter sido o
ambiente da última negociação na concertação social. A minha experiência é
pobre na matéria. Já tive o prazer de estar numa reunião da concertação no
edifício do Restelo, mas apenas para apresentar um relatório que serviria de
base a um pronunciamento do Conselho, ainda sob a presidência do saudoso e
sempre heterodoxo Dr. Silva Lopes. Se extrapolássemos, indevidamente diga-se, o
tom desta conversa denunciada pelo microfone intrusivo, ficaríamos com a ideia
de que temos um Governo rijo. Mas mesmo reconhecendo o tom por vezes camiliano
do discurso do ministro tenho alguma dificuldade em imaginar a génese do bate
boca. Há quem diga que o poder é afrodisíaco, isso explicaria algumas vidas
políticas de longa duração. Mas que o poder estimulasse a linguagem camiliana é
algo curioso.
Felizmente, em linha com o nível elevado que a sua prestação no Governo tem
atingido, o Augusto Santos Silva cortou rente a especulação, pediu desculpa
pela liberdade de linguagem e partiu para outra. Mas fica a curiosidade,
reconheço que algo mórbida, acerca de outras metáforas
utilizadas para elogiar as prestações públicas de outros ministros.
Sem comentários:
Enviar um comentário