(A questão da
eficácia dos trabalhos escolares de casa, os tão conhecidos TPC, continua a
desafiar umas atónitas Ciências da Educação, incapazes de proporcionar aos pais e aos docentes orientações
fundamentadas e firmes …)
Os OECD Insights do passado 30 de novembro voltam ao tema dos TPC e à sua
eficácia do ponto de vista dos resultados de aprendizagem que podem ser associados
a tal prática. Tinha-me escapado que o tema tinha merecido uma greve em Espanha,
proposta em Espanha para o mês de novembro aos trabalhos de cada pela CEAPA, confederação
de cerda de 12.000 associações das famílias com filhos nas escolas públicas
(ver link aqui). O tema tem em Espanha uma especial acuidade, pois à luz dos resultados
do programa PISA, os jovens espanhóis estão sujeitos a um período de trabalhos
escolares em casa bastante acima da média da OCDE, sem que tal se traduza em resultados
condizentes com o esforço realizado.
O estado incipiente da arte em matéria de ciências da educação nesta questão
é clamoroso, pois seria de esperar investigação suscetível de proporcionar à
Escola uma melhor orientação neste tipo de práticas e sobretudo mais informação
para conhecimento dos pais e docentes. Há que avaliar se o TPC é sobretudo um
exercício de autonomia e de desafio à disciplina e à capacidade de auto-organização
e domínio do tempo por parte da criança ou se, pelo contrário, ele deveria ser
uma combinação de autodisciplina e autoaprendizagem, por um lado, e orientação tutorial
por outro. Em qualquer uma das modalidades atrás apresentadas e sem investigação
empírica de suporte, penso que é antecipável que os TPC constituam na prática um
sério elemento de reprodução de desigualdades de contexto, já que o ambiente
familiar em que tais práticas vão ocorrer tenderá a reproduzir a desigualdade
dos resultados. Admito que a questão tem de ser cruzada com o grau de ensino e
idade dos jovens. Mas a Escola Pública não pode demitir-se de, no tempo de
permanência dos jovens na Escola, criar condições para que todos desenvolvam
capacidades de autonomia no estudo e de disciplina de gestão do tempo.
Os OECD Insights recuperam investigação que mostra alguma correlação entre
resultados de aprendizagem e trabalhos de casa, mas essa relação é substancialmente
mais forte em idades mais avançadas e portanto em níveis de ensino mais
avançados. Mas ninguém nos tira que tendem a exacerbar os efeitos das
disparidades socioeconómicas no desempenho dos alunos.
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