quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

A GREVE AOS TRABALHOS DE CASA




(A questão da eficácia dos trabalhos escolares de casa, os tão conhecidos TPC, continua a desafiar umas atónitas Ciências da Educação, incapazes de proporcionar aos pais e aos docentes orientações fundamentadas e firmes …)

Os OECD Insights do passado 30 de novembro voltam ao tema dos TPC e à sua eficácia do ponto de vista dos resultados de aprendizagem que podem ser associados a tal prática. Tinha-me escapado que o tema tinha merecido uma greve em Espanha, proposta em Espanha para o mês de novembro aos trabalhos de cada pela CEAPA, confederação de cerda de 12.000 associações das famílias com filhos nas escolas públicas (ver link aqui). O tema tem em Espanha uma especial acuidade, pois à luz dos resultados do programa PISA, os jovens espanhóis estão sujeitos a um período de trabalhos escolares em casa bastante acima da média da OCDE, sem que tal se traduza em resultados condizentes com o esforço realizado.

O estado incipiente da arte em matéria de ciências da educação nesta questão é clamoroso, pois seria de esperar investigação suscetível de proporcionar à Escola uma melhor orientação neste tipo de práticas e sobretudo mais informação para conhecimento dos pais e docentes. Há que avaliar se o TPC é sobretudo um exercício de autonomia e de desafio à disciplina e à capacidade de auto-organização e domínio do tempo por parte da criança ou se, pelo contrário, ele deveria ser uma combinação de autodisciplina e autoaprendizagem, por um lado, e orientação tutorial por outro. Em qualquer uma das modalidades atrás apresentadas e sem investigação empírica de suporte, penso que é antecipável que os TPC constituam na prática um sério elemento de reprodução de desigualdades de contexto, já que o ambiente familiar em que tais práticas vão ocorrer tenderá a reproduzir a desigualdade dos resultados. Admito que a questão tem de ser cruzada com o grau de ensino e idade dos jovens. Mas a Escola Pública não pode demitir-se de, no tempo de permanência dos jovens na Escola, criar condições para que todos desenvolvam capacidades de autonomia no estudo e de disciplina de gestão do tempo.

Os OECD Insights recuperam investigação que mostra alguma correlação entre resultados de aprendizagem e trabalhos de casa, mas essa relação é substancialmente mais forte em idades mais avançadas e portanto em níveis de ensino mais avançados. Mas ninguém nos tira que tendem a exacerbar os efeitos das disparidades socioeconómicas no desempenho dos alunos.

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