As relações dos EUA com a China, designadamente as económicas, começam a tornar-se um dos poucos temas invariáveis no discurso e nos desavergonhados tweets do Presidente eleito. Do alto da sua visão primária da globalização, Trump acusa a China de ser a grande responsável pelo fenómeno da deslocalização de empresas e pela invasão do mercado norte-americano por produtos de baixo custo (já se propôs mesmo aplicar taxas de 45% a produtos de origem chinesa), bem assim como de manipular unilateralmente a sua moeda, de todos esses elementos considerando resultarem fortes ameaças à indústria e aos empregos dos seus concidadãos. Sendo que os únicos dados objetivos são os que advêm de um saldo comercial bilateral bem superior a 300 mil milhões de dólares e, em sentido contrário, de uma efetiva tendência de valorização do yuan em relação ao dólar (iniciada com a decisão do Banco Central Chinês de meados da década passada no sentido de permitir à sua moeda uma flutuação relativamente livre). E que, ao invés do que Trump postula, a hipótese de ele vir a embarcar numa “guerra comercial” com a China poderá causar graves danos a uma economia norte-americana cujo principal parceiro é precisamente a China; tanto mais que é obviamente muito diminuta a probabilidade de que regressem aos EUA as indústrias de trabalho intensivo que migraram para o Terceiro Mundo – conversa da treta, pois, embora não menos perigosa por isso...
Trump dirige ainda outras acusações à China, como por exemplo a de estar por detrás da “invenção” das alterações climáticas (designadamente, diz, como forma de provocar a baixa da produtividade das empresas norte-americanas). Mas o mais relevante foi que, recentemente, Trump se resolveu pela prática de uma verdadeira tropelia diplomática ao estabelecer um inédito contacto direto com a presidente de Taiwan e ao vir de seguida sugerir que poderia estar disposto a rever o princípio conhecido como “uma China” – uma “hipocrisia construtiva”, em feliz definição do “Financial Times” – que tem vindo a regular as relações entre Washington e Pequim desde 1979 e a permitir a manutenção da paz no estreito de Taiwan; os responsáveis chineses, por enquanto bastante comedidos em relação ao demais – chegaram até a fazer saber que iriam levar a cabo novos investimentos criadores de emprego nos Estados Unidos e autorizar a construção de uma ou duas torres Trump em cidades locais –, logo vieram manifestar a sua perplexidade e “preocupações sérias” quanto a esta matéria. Porque a paciência chinesa também terá os seus limites!
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