sábado, 17 de dezembro de 2016

QUAL SERÁ AFINAL A AGENDA DE PASSOS?




(Costa talvez não esperasse por este contexto de acolhimento. As dificuldades que o governo com acordo parlamentar tem até agora enfrentado ou resultam de brechas que o próprio Governo imprudentemente criou (tipo CGA) ou então têm origem em arrufos no interior do próprio acordo. A posição da oposição, particularmente do PSD, é intrigante e suscita o tema de saber que tipo de político é afinal Passos Coelho …)

Tenho a intuição de que ninguém de juízo sereno tem já pachorra para ouvir o chorrilho de dislates, sobretudo no tom em que os profere, que Passos Coelho vai destilando para a comunicação social, esteja onde estiver, na visita mais solene, ou no evento mais informal.

Diziam os jornais de hoje que Passos continua a devorar quilómetros, sempre em profundo convívio com as bases, naquele espírito que lhe é tão peculiar, do tipo Massamá – Manta Rota, embora por vezes o seu caráter displicente o atraiçoe na sua aproximação à genuinidade das suas bases.

Montenegro tem-se esforçado quanto pode na pretensa demonstração de que o seu líder não é um populista, invocando entre outras coisas a maneira como se apresentou em eleições na última ida às urnas. Mas o estilo de oposição que Passos tem promovido, impreparada, sempre tributária e dependente de uma das mais incoerentes ministras das Finanças que tivemos nos últimos tempos, Maria Luís, começa a sugerir que Passos tem um projeto de pretensa representação identitária com as bases mais profundas do partido e daí o seu conta quilómetros.

Mas o mistério permanece. Nos últimos tempos, não se tem ouvido da boca de Passos nenhuma daquelas ideias do começo do governo do PAF, onde se percebia a presença de um conjunto de jovens iluminados, apostados em destruir o que de mais cavernoso existisse no país. Todos nos recordamos como havia um velho Portugal a abater, entendido como algo de corrosivo da modernidade do País e que uma interpretação extensiva do memorando da Troika permitiria abater, se o ónus de levar isso a votos, escudados na vontade dos credores. Tais personagens desapareceram aparentemente do mapa de proximidade de Passos. Não se sabe qual o estado da arte do relacionamento de Passos com personagens como Marco António Costa e a gente que usa o telefone como cadeia de comando. A agenda de Passos parece limitada a um minúsculo notebook em que ele regista as peripécias que pretende cavalgar, para aguentar os seus tempos de antena e combater o esquecimento. O caderno não tem lugar para mais extensão de ideias e muito menos para a construção de um programa social-democrata que afirme coerentemente as suas diferenças face à maioria de esquerda. Dará a proximidade às bases para aguentar uma eventual queda continuada nas sondagens? Cuidará Passos que a matriz localista do PSD chegará para uma vitória nas autárquicas ou para uma eventual derrota não comprometedora? Ou pensará que as putativas alternativas à sua liderança aguardam por outros tempos para saírem da sua zona de conforto?

Em meu entender, Passos não tem arcaboiço para muito mais. Navega como acha que sabe e pode e não é homem para grandes rasgos que tracem um novo rumo de viagem. Mas o que me intriga é que com tanta proximidade às bases, estas não venham manifestando incomodidade pela falta de ideias para animar a malta. Ou será que a mudança nelas operada iniba qualquer pressão coerente junto do líder para uma mudança de rumo?

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