(Costa talvez não
esperasse por este contexto de acolhimento. As dificuldades que o governo com
acordo parlamentar tem até agora enfrentado ou resultam de brechas que o
próprio Governo imprudentemente criou (tipo CGA) ou então têm origem em arrufos
no interior do próprio acordo. A posição da oposição, particularmente do PSD, é intrigante e suscita o
tema de saber que tipo de político é afinal Passos Coelho …)
Tenho a intuição de que ninguém de juízo sereno tem já pachorra para ouvir
o chorrilho de dislates, sobretudo no tom em que os profere, que Passos Coelho
vai destilando para a comunicação social, esteja onde estiver, na visita mais
solene, ou no evento mais informal.
Diziam os jornais de hoje que Passos continua a devorar quilómetros, sempre
em profundo convívio com as bases, naquele espírito que lhe é tão peculiar, do
tipo Massamá – Manta Rota, embora por vezes o seu caráter displicente o
atraiçoe na sua aproximação à genuinidade das suas bases.
Montenegro tem-se esforçado quanto pode na pretensa demonstração de que o
seu líder não é um populista, invocando entre outras coisas a maneira como se
apresentou em eleições na última ida às urnas. Mas o estilo de oposição que
Passos tem promovido, impreparada, sempre tributária e dependente de uma das
mais incoerentes ministras das Finanças que tivemos nos últimos tempos, Maria
Luís, começa a sugerir que Passos tem um projeto de pretensa representação
identitária com as bases mais profundas do partido e daí o seu conta
quilómetros.
Mas o mistério permanece. Nos últimos tempos, não se tem ouvido da boca de
Passos nenhuma daquelas ideias do começo do governo do PAF, onde se percebia a
presença de um conjunto de jovens iluminados, apostados em destruir o que de
mais cavernoso existisse no país. Todos nos recordamos como havia um velho
Portugal a abater, entendido como algo de corrosivo da modernidade do País e
que uma interpretação extensiva do memorando da Troika permitiria abater, se o
ónus de levar isso a votos, escudados na vontade dos credores. Tais personagens
desapareceram aparentemente do mapa de proximidade de Passos. Não se sabe qual
o estado da arte do relacionamento de Passos com personagens como Marco António
Costa e a gente que usa o telefone como cadeia de comando. A agenda de Passos
parece limitada a um minúsculo notebook
em que ele regista as peripécias que pretende cavalgar, para aguentar os seus
tempos de antena e combater o esquecimento. O caderno não tem lugar para mais
extensão de ideias e muito menos para a construção de um programa
social-democrata que afirme coerentemente as suas diferenças face à maioria de
esquerda. Dará a proximidade às bases para aguentar uma eventual queda
continuada nas sondagens? Cuidará Passos que a matriz localista do PSD chegará
para uma vitória nas autárquicas ou para uma eventual derrota não
comprometedora? Ou pensará que as putativas alternativas à sua liderança
aguardam por outros tempos para saírem da sua zona de conforto?
Em meu entender, Passos não tem arcaboiço para muito mais. Navega como acha
que sabe e pode e não é homem para grandes rasgos que tracem um novo rumo de
viagem. Mas o que me intriga é que com tanta proximidade às bases, estas não
venham manifestando incomodidade pela falta de ideias para animar a malta. Ou
será que a mudança nelas operada iniba qualquer pressão coerente junto do líder
para uma mudança de rumo?
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