segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

E SE NÃO FORMOS TÃO RACIONAIS COMO PENSAMOS QUE SOMOS?




(A economia está ainda longe de ser fertilizada pelos contributos de outras ciências. O tema da racionalidade é um exemplo de como podemos estar a construir uma economia suportada por pressupostos muito questionáveis…)

A revista Scientific American é um bom exemplo de como a ciência pode ser divulgada e como uma cultura científica pode ser construída com o desenvolvimento de relações mais abertas entre diferentes ciências.

Vem isto a propósito de um guest blog de Elly Vintiadis na referida revista, com data de 12 de dezembro, no qual são discutidas evidências de investigação que aponta para a relativização da ideia por nós adquirida de que todas as nossas decisões individuais são estruturadas a partir do conceito de racionalidade.

Vintiadis traz para a reflexão os resultados de investigação do agora membro do Conselho de Estado Professor António Damásio, que mostrou que certas decisões complexas e importantes que tomamos são precedidas por reações psicológicas (emoções, principalmente) que nos facilitam o processo de decisão. Mas traz também para a reflexão resultados de investigação de Lisa Bortolotti que nos dão conta de que tendemos a racionalizar decisões que já tomámos, embora tenhamos decidido com a ajuda de outros elementos que não podem considerar-se típicos dos princípios da racionalidade. Em coerência com estes resultados, fica também questionada a associação das doenças mentais a uma irracionalidade epistémica.

O que me interessa nesta fertilização de conhecimento é o reconhecimento de que a economia dominante, sobretudo a que lida com a formalização de comportamentos económicos individuais, centrais em toda a microeconomia, continua baseada na ideia de que todas as nossas decisões são racionais. A economia é acusada de ser uma ciência imperial, pouco propensa à fertilização com outras ciências. Não há razões para tanto imperialismo. Afinal, face às ciências consideradas exatas, a economia não deveria pôr-se em bicos de pés. Para além disso, continua a basear-se em pressupostos de comportamento individual que outras ciências começam a questionar.

Presunção e água benta …

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