(A economia está
ainda longe de ser fertilizada pelos contributos de outras ciências. O tema da racionalidade é um exemplo de como
podemos estar a construir uma economia suportada por pressupostos muito
questionáveis…)
A revista Scientific American é
um bom exemplo de como a ciência pode ser divulgada e como uma cultura científica
pode ser construída com o desenvolvimento de relações mais abertas entre
diferentes ciências.
Vem isto a propósito de um guest blog de Elly Vintiadis na referida revista, com data de 12 de dezembro, no qual são
discutidas evidências de investigação que aponta para a relativização da ideia
por nós adquirida de que todas as nossas decisões individuais são estruturadas
a partir do conceito de racionalidade.
Vintiadis traz para a reflexão os resultados de investigação do agora
membro do Conselho de Estado Professor António Damásio, que mostrou que certas
decisões complexas e importantes que tomamos são precedidas por reações psicológicas
(emoções, principalmente) que nos facilitam o processo de decisão. Mas traz
também para a reflexão resultados de investigação de Lisa Bortolotti que nos dão
conta de que tendemos a racionalizar decisões que já tomámos, embora tenhamos
decidido com a ajuda de outros elementos que não podem considerar-se típicos dos
princípios da racionalidade. Em coerência com estes resultados, fica também questionada
a associação das doenças mentais a uma irracionalidade epistémica.
O que me interessa nesta fertilização de conhecimento é o reconhecimento de
que a economia dominante, sobretudo a que lida com a formalização de comportamentos
económicos individuais, centrais em toda a microeconomia, continua baseada na
ideia de que todas as nossas decisões são racionais. A economia é acusada de
ser uma ciência imperial, pouco propensa à fertilização com outras ciências. Não
há razões para tanto imperialismo. Afinal, face às ciências consideradas
exatas, a economia não deveria pôr-se em bicos de pés. Para além disso,
continua a basear-se em pressupostos de comportamento individual que outras ciências
começam a questionar.
Presunção e água benta …
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