quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

MARCELO AO VIVO


Correspondendo a um simpático convite da Fundação AEP, participei ontem no almoço-debate que na sua sede foi protagonizado pelo Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa. Um evento em que, muito mais do que o “pilhas Marcell” com que o cartune de António carinhosamente o referenciou, o primeiro magistrado da Nação exibiu à saciedade a sua inteligência e sentido estratégico.

A razão das razões de Marcelo ficou bem demonstrada e à vista de todos, goste-se muito ou pouco do estilo e da forma (vide as críticas de Santana Lopes ou de Pacheco Pereira, p.e.). O Presidente explicou com cristalina clareza o que o move e como tal se enquadra numa leitura pessoal, mas razoavelmente objetiva, da situação de Portugal e da gravidade dos problemas que ainda nos afligem. Sustentou com o otimismo (talvez não totalmente realista mas certamente também não irritante) que lhe é próprio que “o mundo e a Europa não podiam estar pior e não podiam oferecer mais oportunidades a Portugal”. Identificou estarmos no dealbar de um novo ciclo em que importa ganhar fôlego para, nos interstícios do sistema político existente, olhar e refletir sobre o País a médio prazo. E terminou sublinhando que Portugal sempre foi “capaz de se reinventar nas circunstâncias mais improváveis”.

Além de um apontamento sobre o “panorama desastroso” associado ao “quadro comunicacional inorgânico” em que estamos mergulhados, o único alvo negativo que se percecionou nas palavras do Chefe de Estado foi a liderança da Oposição, acusada elegante e cirurgicamente de “atacar ao lado” (ao pôr o foco confrontativo no sistema financeiro) e de uma notória e repetida insistência numa espécie de permanente sonho em regressar ao passado e às suas reais ou alegadas realizações. Sendo que o “talento” do Primeiro-Ministro na gestão do Governo não deveria desejavelmente dispensar nem mesmo deixar de exigir, segundo a visão de Marcelo, uma eficaz presença de contrapesos. Justa ou injustamente, veio-me à cabeça que parece estar cada vez mais declaradamente “aberta a época de caça ao Coelho”...

(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

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