quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

O BARÓMETRO DE PISA




(Uma grande maioria dos políticos atuais, inspirados no instantâneo e no fogacho e com fraca cabeça para pensar coisas um pouco mais complexas, tende a canibalizar quais resultados de políticas públicas, o que é uma tragédia dos tempos que correm…)

A publicação dos resultados do projeto OCDE PISA 2015 representou esta semana um contributo para a melhoria da autoestima dos portugueses, ultimamente tão vilipendiada pelas circunstâncias. O Projeto PISA constitui uma oportunidade única para dispor de indicadores comparativos quanto ao desempenho do sistema educativo, medindo a literacia dos jovens em termos de ciências, matemática e de leitura. Como os especialistas mais cuidadosos sabem, não há comparações internacionais imaculadas, mas tendo isso em conta, os indicadores PISA são praticamente o que nos resta para uma comparação monitorizada por uma organização internacional credível.

O panorama evidenciado pelos jovens portugueses é muito positivo, sobretudo do ponto de vista da estabilização de tendências de resultados, o que é em si prova de que se trata de evoluções sustentadas, reveladoras no fundo de trabalho e de persistência. Nos valores deste ano, na modalidade ciência, Portugal situa-se pela primeira vez acima da média da OCDE e até o El País, não se limitou a falar de Ronaldo, e dedicou um artigo à conclusão de que Portugal é o único país europeu a apresentar uma melhoria sustentada dos indicadores desde o ano 2000. E como os resultados respeitam ao período de 2012-2015, é inevitável a conclusão de que, pelo menos em matéria de educação, o difícil aperto em que o resgate financeiro colocou a sociedade portuguesa não interrompeu essa melhoria sustentada, o que temos de considerar um facto notável. Assim, os cortes salariais dos professores e o aumento do número médio de alunos por turma parecem não ter exercido qualquer influência no desempenho do sistema em termos de resultados PISA. É uma boa notícia e sobretudo a revelação de um sistema muito resiliente.

Não custa admitir que o governo cessante, principalmente o Ministro Nuno Crato, teve finalmente uma evidência que não o penalizasse. É democraticamente saudável reconhecer essa evidência, assim como é crucial reconhecer a sustentabilidade que o processo parece evidenciar, o que aponta para a persistência do trabalho.

Mas já não há pachorra para políticos do fogacho e do instantâneo que necessitariam de uma boa formação em sistemas de causalidade. É deprimente assistir-se ao mais despudorado aproveitamento, para positivos ou para negativos, de qualquer indicador, totalmente desinserido de um contexto mais vasto de condições que tornaram possíveis os resultados agora alcançados. Exige-se um trabalho mais aturado de interpretação dos resultados agora publicados para compreender as razões da melhoria sustentada. Mas que é uma boa notícia é, sobretudo do ponto de vista de um sistema resiliente aos humores de quem o dirige politicamente.

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