(Uma grande
maioria dos políticos atuais, inspirados no instantâneo e no fogacho e com
fraca cabeça para pensar coisas um pouco mais complexas, tende a canibalizar
quais resultados de políticas públicas, o que é uma tragédia dos tempos que correm…)
A publicação dos resultados do projeto OCDE PISA 2015 representou esta
semana um contributo para a melhoria da autoestima dos portugueses, ultimamente
tão vilipendiada pelas circunstâncias. O Projeto PISA constitui uma
oportunidade única para dispor de indicadores comparativos quanto ao desempenho
do sistema educativo, medindo a literacia dos jovens em termos de ciências,
matemática e de leitura. Como os especialistas mais cuidadosos sabem, não há
comparações internacionais imaculadas, mas tendo isso em conta, os indicadores
PISA são praticamente o que nos resta para uma comparação monitorizada por uma organização
internacional credível.
O panorama evidenciado pelos jovens portugueses é muito positivo, sobretudo
do ponto de vista da estabilização de tendências de resultados, o que é em si
prova de que se trata de evoluções sustentadas, reveladoras no fundo de
trabalho e de persistência. Nos valores deste ano, na modalidade ciência, Portugal
situa-se pela primeira vez acima da média da OCDE e até o El País, não se limitou
a falar de Ronaldo, e dedicou um artigo à conclusão de que Portugal é o único
país europeu a apresentar uma melhoria sustentada dos indicadores desde o ano
2000. E como os resultados respeitam ao período de 2012-2015, é inevitável a conclusão
de que, pelo menos em matéria de educação, o difícil aperto em que o resgate
financeiro colocou a sociedade portuguesa não interrompeu essa melhoria
sustentada, o que temos de considerar um facto notável. Assim, os cortes salariais
dos professores e o aumento do número médio de alunos por turma parecem não ter
exercido qualquer influência no desempenho do sistema em termos de resultados
PISA. É uma boa notícia e sobretudo a revelação de um sistema muito resiliente.
Não custa admitir que o governo cessante, principalmente o Ministro Nuno
Crato, teve finalmente uma evidência que não o penalizasse. É democraticamente
saudável reconhecer essa evidência, assim como é crucial reconhecer a sustentabilidade
que o processo parece evidenciar, o que aponta para a persistência do trabalho.
Mas já não há pachorra para políticos do fogacho e do instantâneo que
necessitariam de uma boa formação em sistemas de causalidade. É deprimente
assistir-se ao mais despudorado aproveitamento, para positivos ou para
negativos, de qualquer indicador, totalmente desinserido de um contexto mais
vasto de condições que tornaram possíveis os resultados agora alcançados. Exige-se
um trabalho mais aturado de interpretação dos resultados agora publicados para
compreender as razões da melhoria sustentada. Mas que é uma boa notícia é,
sobretudo do ponto de vista de um sistema resiliente aos humores de quem o dirige
politicamente.
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