segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

RASTILHOS




(Com poucas horas a separá-los, dois acontecimentos de tragédia, um em Ancara, outro em Berlim, mostram-nos de forma violenta, mas clara, que vivemos sob pólvora, à espera do seu rastilho…)

O acidente/atentado de Berlim está ainda obscuro. Não sabemos se a réplica do autocarro de Nice é simplesmente uma coincidência da vertigem do terror. O assassinato do embaixador Russo às mãos de um polícia turco, de fato e gravata, que gritou por Alá e por Alepo, tem mais informação, embora esteja pendente uma explicação acerca do que significará a variável “polícia turco”. Não é seguro que o ponto comum entre os dois atentados se chame Turquia, talvez seja uma ligação demasiado fácil e injusta para uma vastíssima comunidade turca já profundamente inserida na Alemanha.



Mas a sensação de rastilho que a Turquia nos traz essa já não é disfarçável. E pensar que toda a estratégia europeia para os refugiados está dependente de acordos com esse país de que ninguém já ouve falar, sobretudo depois da purga interna iniciada pelo partido de Erdogan, lança-nos numa espécie de roleta russa, que as tropas de Putin se esmeram por diariamente reavivar. Para a informação que temos disponível, a Síria transformou-se num novelo indesfiável. A relação “regime de Bashar al-Assad – Rússia – rebeldes – Turquia – Curdos – Estado islâmico - drones ocidentais e sei lá quem mais” é hoje demasiado complexa para a percebermos à distância. Que o fanatismo turco, sabe-se lá ao serviço de quem, tenha decidido abater a sua ira sobre os Russos, despachando para o Além o embaixador, demonstra por um lado a força da presença russa no teatro da Síria. Mas também coloca em evidência as brasas em que caminhamos.


Em Berlim, foi mais uma vez para nossa tragédia, um símbolo da convivialidade europeia, os mercados de Natal que por essa Alemanha se multiplicam nesta quadra, que foram objeto de um ataque. A regularidade é visível, da Bélgica a Paris, de Nice a Berlim.

Por razões estritamente pessoais, a caminhada para o Natal tem sido este ano mais intermitente e demasiado condicionada pelos condicionalismos da vida. A tarde e a noite de hoje vêm-nos mostrar que os tempos não vão de feição para nostalgias. O fanatismo não as compreende.

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