(Com poucas horas
a separá-los, dois acontecimentos de tragédia, um em Ancara, outro em Berlim, mostram-nos
de forma violenta, mas clara, que vivemos sob pólvora, à espera do seu rastilho…)
O acidente/atentado de Berlim está ainda obscuro. Não sabemos se a réplica
do autocarro de Nice é simplesmente uma coincidência da vertigem do terror. O assassinato
do embaixador Russo às mãos de um polícia turco, de fato e gravata, que gritou
por Alá e por Alepo, tem mais informação, embora esteja pendente uma explicação
acerca do que significará a variável “polícia turco”. Não é seguro que o ponto
comum entre os dois atentados se chame Turquia, talvez seja uma ligação
demasiado fácil e injusta para uma vastíssima comunidade turca já profundamente
inserida na Alemanha.
Mas a sensação de rastilho que a Turquia nos traz essa já não é disfarçável.
E pensar que toda a estratégia europeia para os refugiados está dependente de
acordos com esse país de que ninguém já ouve falar, sobretudo depois da purga
interna iniciada pelo partido de Erdogan, lança-nos numa espécie de roleta
russa, que as tropas de Putin se esmeram por diariamente reavivar. Para a
informação que temos disponível, a Síria transformou-se num novelo indesfiável.
A relação “regime de Bashar al-Assad – Rússia
– rebeldes – Turquia – Curdos – Estado islâmico - drones ocidentais e sei lá
quem mais” é hoje demasiado complexa para a percebermos à distância. Que o
fanatismo turco, sabe-se lá ao serviço de quem, tenha decidido abater a sua ira
sobre os Russos, despachando para o Além o embaixador, demonstra por um lado a força
da presença russa no teatro da Síria. Mas também coloca em evidência as brasas
em que caminhamos.
Em Berlim, foi mais uma vez para nossa tragédia, um símbolo da convivialidade
europeia, os mercados de Natal que por essa Alemanha se multiplicam nesta
quadra, que foram objeto de um ataque. A regularidade é visível, da Bélgica a
Paris, de Nice a Berlim.
Por razões estritamente pessoais, a caminhada para o Natal tem sido este
ano mais intermitente e demasiado condicionada pelos condicionalismos da vida.
A tarde e a noite de hoje vêm-nos mostrar que os tempos não vão de feição para
nostalgias. O fanatismo não as compreende.
Sem comentários:
Enviar um comentário