domingo, 4 de dezembro de 2016

O QUE VALE UM EMPREGO?




(Trump ainda não tomou posse, mas o debate está já ao rubro sobre algumas das suas mais que imprevisíveis decisões, mas o estranho da questão é que são percebendo algumas das razões que podem ter explicado a sua vitória sobretudo nos Estados do declínio industrial americano …)

O meu post anterior falava de uma controvérsia ao rubro na blogosfera económica sobre a pretensa sanha salvadora de mil postos de trabalho no estado de Indiana, que iriam ser deslocados para o México, mas que parcialmente face à deslocalização prometida da CARRIER irão manter-se em solo americano.

Noah Smith tem uma excelente peça no Bloomberg View sobre o significado quase sempre ignorado pela teoria económica de se ter um emprego, quando sobretudo confrontado com a situação antagónica de o ter perdido e o tempo de recuperação de um novo emprego se alongar para além do humanamente suportável. Ou seja, na função-utilidade que pretende medir o bem-estar económico, os economistas não terão devidamente avaliado o peso que a generalidade dos cidadãos atribui ao facto de ter um emprego e não estar na qualidade de desempregado, sobretudo de longa duração. Por vezes, as questões óbvias são frequentemente ignoradas pela teoria económica. É esse o caso da economia do trabalho quando resume os efeitos potencialmente nocivos de uma proteção no desemprego demasiado alta na procura de um novo emprego a um simples custo de oportunidade entre o que se recebe pela subsidiação e os custos em que o trabalhador incorre na procura ativa desse novo emprego. Esta questão é relevante a vários níveis. É relevante para explicar o nacionalismo económico de Trump e de outros candidatos a esse exercício e compreender o voto do operariado branco americano seduzido pela promessa da generalização de intervenções do tipo da observada com o caso CARRIER. Mas é também relevante para compreender que entre o comportamento das variáveis emprego e PIB devamos provavelmente atribuir uma importância acrescida à variável emprego dadas as considerações acima produzidas. A título de curiosidade, a narrativa do governo Costa passou inicialmente pela valoração acrescida do comportamento do emprego em relação ao do PIB, mas com as notícias do terceiro trimestre de 2016 e o valor do crescimento português no panorama comparativo europeu, rapidamente essa narrativa deu ligar ao primado do PIB.

O que sabemos hoje é que “ter um emprego” pesa bastante no padrão de felicidade dos trabalhadores ativos e que muitos preferirão esse emprego ao cheque ou depósito da segurança social na sua conta. Este facto deita por terra toda a economia do trabalho que repousa excessivamente na ideia de custo de oportunidade entre receber esse cheque e procurar ativamente um novo posto de trabalho. Não foi por acaso que Trump ganhou essencialmente nos estados mais ameaçados pela globalização. Como diz Noah Smith “devemos ler mais sociologia, falar com mais trabalhadores e prestar mais atenção a coisas como dignidade, respeito e sentido de comunidade – intangíveis que não são vendidos em nenhum mercado”.

Assino por baixo.

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