(Trump ainda não
tomou posse, mas o debate está já ao rubro sobre algumas das suas mais que
imprevisíveis decisões, mas
o estranho da questão é que são percebendo algumas das razões que podem ter
explicado a sua vitória sobretudo nos Estados do declínio industrial americano …)
O meu post anterior falava de uma controvérsia ao rubro na blogosfera económica
sobre a pretensa sanha salvadora de mil postos de trabalho no estado de
Indiana, que iriam ser deslocados para o México, mas que parcialmente face à
deslocalização prometida da CARRIER irão manter-se em solo americano.
Noah Smith tem uma excelente peça no Bloomberg View sobre o significado quase sempre ignorado pela teoria económica de se
ter um emprego, quando sobretudo confrontado com a situação antagónica de o ter
perdido e o tempo de recuperação de um novo emprego se alongar para além do
humanamente suportável. Ou seja, na função-utilidade que pretende medir o
bem-estar económico, os economistas não terão devidamente avaliado o peso que a
generalidade dos cidadãos atribui ao facto de ter um emprego e não estar na qualidade
de desempregado, sobretudo de longa duração. Por vezes, as questões óbvias são
frequentemente ignoradas pela teoria económica. É esse o caso da economia do
trabalho quando resume os efeitos potencialmente nocivos de uma proteção no
desemprego demasiado alta na procura de um novo emprego a um simples custo de
oportunidade entre o que se recebe pela subsidiação e os custos em que o
trabalhador incorre na procura ativa desse novo emprego. Esta questão é
relevante a vários níveis. É relevante para explicar o nacionalismo económico de
Trump e de outros candidatos a esse exercício e compreender o voto do
operariado branco americano seduzido pela promessa da generalização de
intervenções do tipo da observada com o caso CARRIER. Mas é também relevante
para compreender que entre o comportamento das variáveis emprego e PIB devamos provavelmente
atribuir uma importância acrescida à variável emprego dadas as considerações
acima produzidas. A título de curiosidade, a narrativa do governo Costa passou
inicialmente pela valoração acrescida do comportamento do emprego em relação ao
do PIB, mas com as notícias do terceiro trimestre de 2016 e o valor do crescimento
português no panorama comparativo europeu, rapidamente essa narrativa deu ligar
ao primado do PIB.
O que sabemos hoje é que “ter um emprego” pesa bastante no padrão de
felicidade dos trabalhadores ativos e que muitos preferirão esse emprego ao
cheque ou depósito da segurança social na sua conta. Este facto deita por terra
toda a economia do trabalho que repousa excessivamente na ideia de custo de
oportunidade entre receber esse cheque e procurar ativamente um novo posto de
trabalho. Não foi por acaso que Trump ganhou essencialmente nos estados mais
ameaçados pela globalização. Como diz Noah Smith “devemos ler mais sociologia,
falar com mais trabalhadores e prestar mais atenção a coisas como dignidade,
respeito e sentido de comunidade – intangíveis que não são vendidos em nenhum
mercado”.
Assino por baixo.
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