terça-feira, 20 de dezembro de 2016

A ITÁLIA DE TODAS AS DECISÕES




(A Itália é hoje um paradoxo incómodo na União Europeia, tanto pode ser vista como uma derradeira esperança de preparar um novo rumo, como pode ser ela a precipitar a derrocada fatal, sejamos claros é isso que se passa, com ou sem Matteo Renzi…)

O Centre for European Reform acaba de publicar uma pequena nota sobre a situação em que a economia italiana se encontra e o título não pode ser mais esclarecedor: Europe’s make-or-break country: What is wrong with Italy’s economy? Começa a ser perigoso os italianos e os parceiros europeus a Sul surfarem a ideia do “too big to fail”. Os tempos estão instáveis e não me admiraria que a inteligência europeia aproveitasse a queda da economia italiana para recentrar a União e cavar de vez a fratura que a visão não solidária da Europa está a desenhar cada vez com mais insistência.

O artigo de Ferdinando Giugliano e de Christian Odendhal destaca a situação de estancamento estagnacionista em que a Itália mergulhou: produto ao nível do observado em 2000, inferior ao de 2008, desemprego fundamentalmente de longa duração em torno dos 11% e uma capacidade exportadora estagnada, bem longe da que já fez o ressurgimento de algumas regiões italianas, principalmente dos seus sistemas produtivos da Itália central, a que não é estranho o efeito devastador da crise na indústria transformadora abaixo presentemente do seu desempenho registado em 1995.

A Itália é uma daquelas economias em que ninguém se atreve a glorificar os benefícios do Euro. Não existe um contrafactual convincente. Há valores que sugerem que em termos de exportação e importação a economia italiana está melhor do que estaria fora do Euro, mas em contrapartida, em termos de produtividade, a situação muda de figura, penalizando fortemente a presença no regime do Euro. Há quem sugira que o ambiente de baixas taxas de juro permitiu que setores menos produtivos fossem privilegiados e outros digam que a Itália entrou no euro com uma paridade exagerada em relação ao marco (onde é que já ouvi esta história?). Hoje, o fardo da dívida é o terceiro mais elevado do mundo, logo a seguir aos EUA e ao Japão e isso começa a ser um problema sério para libertar recursos para a modernização do investimento (onde é que eu já também ouvi isto?).

Tal como noutros artigos com origem em think-tanks europeus como este, a coisa vai bem até um terço do final, altura em que é necessário começar a falar de perspetivas e de propostas. Aí a porca torce o rabo, pois ninguém é capaz de imaginar o que pode a União Europeia fazer pela salvação da economia italiana, isto pressupondo que as imparidades do sistema bancário são resolvidas, sem grandes abalos.

Too big to fail, talvez. Mas grandes embarcações, grandes naufrágios! Por estranho que pareça, a Itália talvez seja a economia que pode dar algum sentido à ladainha das reformas estruturais. Mas transformar uma ladainha em plano consequente de ação é um bom bico de obra.

É assim que vamos entrar em 2017, com ou sem Matteo Renzi.

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