Devo a um artigo do João Carlos Espada (JCE) o facto de me terem sido recordados os cinquenta anos do Maio de 68, movimentações que aliás começaram em finais de abril. Agradecimento assim feito ao autor, tudo o resto no texto de JCE é deslocado – sintetizo a ideia mestra: “Contra os anseios revolucionários de Maio de 68, a França permaneceu “burguesa”, isto é, livre e democrática. Pôde assim absorver ideias de Maio de 68, que teriam sido esmagadas pelos comunistas.” Pessoalmente, e apesar de ainda a meio da adolescência e vivendo numa periferia europeia salazarista, sinto-me parte da geração que protagonizou nas ruas um protesto quase juvenil e que teve muito mais de espontaneísmo (explicado histórica e sociologicamente por muito boa gente conhecedora da matéria e que, a meu ver, JCE não deveria evitar) do que de controlo por parte de forças perigosamente enfeudadas aos maléficos poderes soviéticos e chineses de então. Os acontecimentos de Maio de 68, que nos chegavam filtrados e com atraso, acabaram por ser, para mim, um ténue despertar de consciência política. Consciência esta que fui afinando com o tempo, estimulado pela ameaça de vir a ser parte da guerra colonial e pelo ambiente estudantil portuense do final dos anos 60 e princípio dos 70. E lá chegou o nosso 25 de abril, estava eu nessa manhã a preparar-me para assistir a uma aula de Economia de Empresa na FEP do sótão dos Leões, aula que seria ministrada por um docente a quem chamávamos de Veiguinha e que já não teve lugar porque, logo ali, alguns colegas mais “politizados” nos vieram explicar com a devida ênfase que tal já não fazia sentido perante o peso da mudança de que estávamos a começar a ser testemunhas vivas.
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