(Com a informação disponível, pelo menos a veiculada por órgãos
de informação em que ainda confio, tudo parece apontar para a culpabilidade,
esperada diga-se, do regime sanguinário de Assad. Aparentemente também, o
ataque americano, britânico e francês foi seletivo e realizado para desmontar
qualquer ideia de retaliação e escalada, embora sem o respaldo de qualquer decisão
das Nações Unidas. Mas o mais perturbador é que para além do ataque
não se vislumbra qualquer ideia ou estratégia coerente para resolver o problema
da Síria.)
Lendo nas
entrelinhas do processo de decisão que conduziu ao ataque seletivo a pretensos
alvos sírios de localização ou produção de armas químicas, intui-se que os
oficiais do Pentágono e os entornos mais chegados de Macron e Theresa May
determinaram um ataque seletivo a alvos bem específicos e não um ataque de
proporções incontroláveis pelos efeitos e retaliação que poderia gerar. Como
cidadãos internacionais escaldados pela inventona de armas de destruição
massiva no Iraque, que colocou para sempre a solidariedade a ocidente em maus
lençóis, apreciamos os acontecimentos sempre envoltos numa nuvem de incerteza e
desconfiança. A precipitação do ataque com base em informação da inteligência
desses países adensa essa nuvem e coloca o direito internacional numa situação
do mais puro descontrolo. Espera-se que a Rússia e o Irão não tenham qualquer
interesse em envolver-se num conflito de proporções incontroláveis e pelo que
se vai lendo o Pentágono parece também não estar interessado em dar condições a
Trump para treinar o seu belicismo. Assim, o “missão cumprida” que Trump se
apressou a divulgar no Tweeter não significa rigorosamente nada pois ninguém antecipa
em que trajetória de acontecimentos o ataque recente representa.
Assim sendo,
a abordagem ao problema Síria permanece em equilíbrio altamente instável,
sempre propício a um incendiário qualquer que resolva provocar a deflagração. De
facto, dando de barato que se confirma a tese de que o regime sírio está na
origem da desumanidade química e que o ataque foi bem-sucedido em termos de
alvos específicos, pode concluir-se o seguinte: (i) ninguém é capaz de negar a possibilidade
do regime sírio retomar a fabricação de material químico, noutras localizações,
mais ou menos secretas para a inteligência ocidental voltar a identificar; (ii)
terminado o ataque, permanece a estranha sensação de que ninguém sabe
efetivamente como resolver o problema sírio.
A segunda
destas conclusões é para mim a mais perturbadora.
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