domingo, 15 de abril de 2018

SÍRIA



(Com a informação disponível, pelo menos a veiculada por órgãos de informação em que ainda confio, tudo parece apontar para a culpabilidade, esperada diga-se, do regime sanguinário de Assad. Aparentemente também, o ataque americano, britânico e francês foi seletivo e realizado para desmontar qualquer ideia de retaliação e escalada, embora sem o respaldo de qualquer decisão das Nações Unidas. Mas o mais perturbador é que para além do ataque não se vislumbra qualquer ideia ou estratégia coerente para resolver o problema da Síria.)

Lendo nas entrelinhas do processo de decisão que conduziu ao ataque seletivo a pretensos alvos sírios de localização ou produção de armas químicas, intui-se que os oficiais do Pentágono e os entornos mais chegados de Macron e Theresa May determinaram um ataque seletivo a alvos bem específicos e não um ataque de proporções incontroláveis pelos efeitos e retaliação que poderia gerar. Como cidadãos internacionais escaldados pela inventona de armas de destruição massiva no Iraque, que colocou para sempre a solidariedade a ocidente em maus lençóis, apreciamos os acontecimentos sempre envoltos numa nuvem de incerteza e desconfiança. A precipitação do ataque com base em informação da inteligência desses países adensa essa nuvem e coloca o direito internacional numa situação do mais puro descontrolo. Espera-se que a Rússia e o Irão não tenham qualquer interesse em envolver-se num conflito de proporções incontroláveis e pelo que se vai lendo o Pentágono parece também não estar interessado em dar condições a Trump para treinar o seu belicismo. Assim, o “missão cumprida” que Trump se apressou a divulgar no Tweeter não significa rigorosamente nada pois ninguém antecipa em que trajetória de acontecimentos o ataque recente representa.

Assim sendo, a abordagem ao problema Síria permanece em equilíbrio altamente instável, sempre propício a um incendiário qualquer que resolva provocar a deflagração. De facto, dando de barato que se confirma a tese de que o regime sírio está na origem da desumanidade química e que o ataque foi bem-sucedido em termos de alvos específicos, pode concluir-se o seguinte: (i) ninguém é capaz de negar a possibilidade do regime sírio retomar a fabricação de material químico, noutras localizações, mais ou menos secretas para a inteligência ocidental voltar a identificar; (ii) terminado o ataque, permanece a estranha sensação de que ninguém sabe efetivamente como resolver o problema sírio.

A segunda destas conclusões é para mim a mais perturbadora.

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