domingo, 8 de abril de 2018

GOVERNOS, GOVERNAÇÕES E POLÍTICOS



“Government at a Glance” é uma interessante e bem estruturada publicação da OCDE que compara numa enorme multiplicidade de dimensões os seus vários países membros em matérias associadas à função, presença e atuação dos poderes públicos (em matérias substantivas e de bom funcionamento democrático ou nas suas grandes dimensões de serviço – educação, saúde, justiça, segurança, transportes, etc.). A mais recentemente disponível evidencia, para a maioria dos casos registados, um notório descrédito dos governos e das governações (medidos em termos de satisfação e confiança) – apenas em 9 dos 36 países da amostra a confiança excede a desconfiança no governo –, um descrédito que se concentra bem mais no âmago do próprio governo do que nos serviços públicos (primeiro gráfico mais abaixo) e um prolongamento negativo daquele descrédito ao longo dos anos para a imensa maioria dos casos – as situações de subida são somente doze, sendo que bastante específicas (cinco países não membros da UE, cinco Estados membros da EU que conheceram alargamentos recentes e/ou experimentam evoluções políticas altamente controversas e tendencialmente populistas – República Checa, Hungria, Letónia, Polónia e Eslováquia –, o special case de um Reino Unido em vias de Brexit e a aqui outlier Alemanha).

No tocante a Portugal, a situação apresenta indícios preocupante, efeitos virtuosos da “geringonça” devidamente descontados na sua dimensão conjuntural: por um lado, porque já são apenas 35% os inquiridos que declaram ter confiança no seu governo (um valor de que somente o sistema judicial já se vai aproximando); por outro lado, porque tal percentagem caiu dez pontos na última década; por fim, porque a posição portuguesa em termos de ordenação de países quanto ao referido indicador mostra que já só são doze aqueles em que os respetivos cidadãos se dizem mais descrentes do que os nossos. Sublinho que esta é uma das matérias a que a minha construção cívico-pessoal é mais sensível e inconformada, sobretudo na medida em que: (i) considero absolutamente intolerável essa já quase natural separação entre “os políticos” e os restantes membros da sociedade; (ii) uma boa parte desta dita sociedade civil exige daqueles o que a sua própria prática lhe não dita; (iii) nos vão sendo diariamente reportadas irritantes e impunes manifestações de incompetência e vaidade por parte de sucessivos governantes, as quais muito contribuem para alimentar aquele afastamento e para lhes garantir um alegado espaço de legitimidade irresponsável.


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