(Desculpem a insistência, mas a reflexão nacional sobre a
questão catalã é demasiado pobre para meu gosto. Uma dimensão mal compreendida é
a posição dos bascos face a esta matéria. Não é uma dimensão menor
do problema, antes mostra que mexe com a estabilidade de todo o sistema político
espanhol das autonomias, particularmente das históricas.)
Pela informação
disponível, será seguramente matéria para a história, daqui a alguns anos, com
a distância necessária e com acesso a outras fontes de informação, se as
houver, e não à perigosa memória, explicar por que razão o independentismo
catalão, Puigdemont em pessoa, faltou à última hora ao compromisso que tinha
com o PNV de não proclamar unilateralmente a independência.
A nação
basca não é seguramente menos nação que a catalã. Porquê então o empenho político
dos bascos em tentar influenciar o independentismo catalão a uma lógica de
negociação e não ao rompimento da corda?
Sabemos que
o País Basco atravessa uma longa transição, depois da penosidade de um fenómeno
radical, violento e militar como a ETA, marcada pela necessidade de conter
impulsos separatistas, acomodando-os num processo aprofundado, muito
aprofundado, de autonomia, paciente e duramente negociado com as autoridades de
Madrid. Agora que a ETA anuncia finalmente a sua dissolução e que o espectro da
violência separatista parece terminado, será tudo menos relevante para os
Bascos assistirem à deriva catalã com os riscos inerentes de despertar de velhos
demónios. Para além disso, os Bascos têm uma fina sensibilidade e conhecimento
do que é o centralismo nacionalista espanhol. Eles sabem que as forças do
centralismo em Espanha também correspondem a demónios com sono leve. A deriva sem
saída catalã está a perturbar esse sono leve e o PNV não tem dúvidas de que isso
perturba os seus próprios objetivos de aprofundamento da autonomia e da
negociação orçamental que a deve suportar. Aliás, o confronto entre demónios
internos e centralistas é tudo o que o PNV e os bascos em geral não desejam e têm
experiência de sofrimento que baste para o justificar.
Assim, quando
forças ligadas ao independentismo catalão atiram para o PNV a responsabilidade
de não aprovar o orçamento de Espanha para o qual o governo Rajoy anda a
mendigar apoios, isso é tipicamente catalão, pois corresponde ao inverso da
situação que está criada. Todos sabemos que se houver acordo interno na
Catalunha e for possível a formação de um governo, os bascos têm o compromisso
de Rajoy (assumido para justificar o apoio do PNV ao orçamento) de que a
intervenção de Madrid terminará, regressando a Catalunha à normalidade. Temos
assim assistido da parte do PNV e do próprio governo basco a um apontar de baterias
quer ao independentismo catalão quer à aplicação do 155º, num equilíbrio tático
que infelizmente o nacionalismo catalão nunca teve, pelo menos nesta fase mais
recente. Segundo Luís R. Aizpeolea no El País (link aqui), “o PNV acusou o independentismo
de “falta de clarividência e liderança” e Carles Puigdemont de pôr os seus interesses
pessoais acima dos do seu país” (será que li bem?).
A gente de Euskadi
e o PNV em particular sabe que o crescimento vertiginoso do CIUDADANOS é
desfavorável à causa das autonomias e por isso tem a perceção de que a mudança
social e política em Espanha pode corresponder a um passo atrás nas autonomias
e com isso o já referido despertar de demónios com sono leve.
Ora isto
mostra o inequívoco isolamento do procès catalão, por mais que a estratégia comunicacional
da Generalitat e das forças que a suportam teimem em querer mostrar-nos o
contrário. Basta uns dedinhos de testa … mesmo que coberta por franjinhas à
Puigdemont.
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