terça-feira, 3 de abril de 2018

EUSKADI E CATALUNYA



(Desculpem a insistência, mas a reflexão nacional sobre a questão catalã é demasiado pobre para meu gosto. Uma dimensão mal compreendida é a posição dos bascos face a esta matéria. Não é uma dimensão menor do problema, antes mostra que mexe com a estabilidade de todo o sistema político espanhol das autonomias, particularmente das históricas.)

Pela informação disponível, será seguramente matéria para a história, daqui a alguns anos, com a distância necessária e com acesso a outras fontes de informação, se as houver, e não à perigosa memória, explicar por que razão o independentismo catalão, Puigdemont em pessoa, faltou à última hora ao compromisso que tinha com o PNV de não proclamar unilateralmente a independência.

A nação basca não é seguramente menos nação que a catalã. Porquê então o empenho político dos bascos em tentar influenciar o independentismo catalão a uma lógica de negociação e não ao rompimento da corda?

Sabemos que o País Basco atravessa uma longa transição, depois da penosidade de um fenómeno radical, violento e militar como a ETA, marcada pela necessidade de conter impulsos separatistas, acomodando-os num processo aprofundado, muito aprofundado, de autonomia, paciente e duramente negociado com as autoridades de Madrid. Agora que a ETA anuncia finalmente a sua dissolução e que o espectro da violência separatista parece terminado, será tudo menos relevante para os Bascos assistirem à deriva catalã com os riscos inerentes de despertar de velhos demónios. Para além disso, os Bascos têm uma fina sensibilidade e conhecimento do que é o centralismo nacionalista espanhol. Eles sabem que as forças do centralismo em Espanha também correspondem a demónios com sono leve. A deriva sem saída catalã está a perturbar esse sono leve e o PNV não tem dúvidas de que isso perturba os seus próprios objetivos de aprofundamento da autonomia e da negociação orçamental que a deve suportar. Aliás, o confronto entre demónios internos e centralistas é tudo o que o PNV e os bascos em geral não desejam e têm experiência de sofrimento que baste para o justificar.

Assim, quando forças ligadas ao independentismo catalão atiram para o PNV a responsabilidade de não aprovar o orçamento de Espanha para o qual o governo Rajoy anda a mendigar apoios, isso é tipicamente catalão, pois corresponde ao inverso da situação que está criada. Todos sabemos que se houver acordo interno na Catalunha e for possível a formação de um governo, os bascos têm o compromisso de Rajoy (assumido para justificar o apoio do PNV ao orçamento) de que a intervenção de Madrid terminará, regressando a Catalunha à normalidade. Temos assim assistido da parte do PNV e do próprio governo basco a um apontar de baterias quer ao independentismo catalão quer à aplicação do 155º, num equilíbrio tático que infelizmente o nacionalismo catalão nunca teve, pelo menos nesta fase mais recente. Segundo Luís R. Aizpeolea no El País (link aqui), “o PNV acusou o independentismo de “falta de clarividência e liderança” e Carles Puigdemont de pôr os seus interesses pessoais acima dos do seu país” (será que li bem?).

A gente de Euskadi e o PNV em particular sabe que o crescimento vertiginoso do CIUDADANOS é desfavorável à causa das autonomias e por isso tem a perceção de que a mudança social e política em Espanha pode corresponder a um passo atrás nas autonomias e com isso o já referido despertar de demónios com sono leve.

Ora isto mostra o inequívoco isolamento do procès catalão, por mais que a estratégia comunicacional da Generalitat e das forças que a suportam teimem em querer mostrar-nos o contrário. Basta uns dedinhos de testa … mesmo que coberta por franjinhas à Puigdemont.

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