(Numa semana em que já não há pachorra para aturar o brunismo deslumbrado-alucinado e alguns
dos seus seguidores, com destaque para o cirurgião do charuto, valeram-nos dois
jogos de outro mundo, com o futebol italiano a mostrar-nos que ainda existe em
todo o seu rigor. E como me deixo fascinar por metáforas futebolísticas,
aquela grande penalidade ao cair do pano no Real Madrid- Juventus estragou-me o
texto sobre a queda do barcelonismo e
do madrilismo.)
Não escondo
que, como espectador racional, contra a corrente dos estádios e da pulsão que
os habita, o futebol italiano do seu apogeu sempre me fascinou, tamanha era a
competência coletiva que emanava, aqui e ali enriquecido pela personalidade
individual do defesa insuperável (um Maldini, um Baresi, um Faccetti), de um construtor
por natureza (um Tardelli, por exemplo) ou a elegância de um atacante (um Paolo
Rossi ou um Baggio, por exemplo). Entretanto, o futebol italiano tem passado
por uma longa noite escura e, sem qualquer pretensão de tese, parecem emergir
condições para uma reviravolta. O afastamento da Itália do Mundial deste ano foi
apenas o produto de uma incompetência de compadrio, de alguém cujas orientações
deveriam militar-se ao “passeiem a vossa categoria”.
Por isso, o
esmagamento do Barcelona, ontem, aos pés e sobretudo à inteligência de uma Roma
insuperável caiu como uma luva para a construção da minha metáfora político-futebolística
da queda do barcelonismo. Queda que é fruto da incompetência gestionária de uma
direção incapaz de ter um rumo e que alinha com a irresponsabilidade que
atravessou a Catalunha. Aquela derrota de ontem representou para mim muito mais
do que um simples resultado futebolístico.
Imaginei por
isso que poderia acontecer algo de similar no Santiago Barnabéu na noite de
hoje. O madrilismo já viveu melhores dias. Não só no futebol em que o investimento
nas vedetas está longe de produzir o esperado retorno desportivo, não ignorando
que no retorno económico e financeiro admito que vá sobre rodas. Mas também em
termos políticos em que a presidência de Carmena também já viveu melhores dias
e na comunidade de Madrid a presidente Cifuentes, a tal dos mestrados por
conveniência ou à distância (não é de e-learning que falo, agoniza até que o PP
decida de vez colocar-lhe os patins, agora certamente para o doutoramento. Pois
o jogo começou a dar-me razão, implacavelmente e quando de uma forma algo rocambolesca
e com a ajuda de um galináceo latino-americano Matuidi fez o 3-0 comecei
mentalmente a conceber a metáfora. O barcelonismo e o madrilismo viveriam, em noites sequenciais,
a derrota das suas pretensões, não podendo cada um rir-se da desgraça alheia, o
que era uma metáfora insuperável, elaborada a partir do futebol, para
representar a situação política espanhola. Mas quis o aleatório do jogo oferecer
no fecho da sessão a oportunidade da grande penalidade ao Ronaldo e este não
vai seguramente em metáforas e, pronto, já está lá dentro e uma eliminatória
salva sem saber como, sobretudo da parte de um aturdido Zidane que a treinar uma
equipa sem estrelas não chegaria ao fim da época. E ainda por cima com a expulsão de Buffon.
Mas que
noite! E lá se foi a metáfora.
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