Não irei ao ponto de dizer que os filhos dos nossos amigos nossos filhos são, mas vou convictamente ao ponto de afirmar que recebo os sucessos deles com uma satisfação genuína e que integra dimensões fortes de admiração, orgulho e afeto. Já aqui elaborei (post de 18 de novembro de 2016) em torno deste tema a propósito de um prémio que foi atribuído nos Estados Unidos (“GPEIG Gill-Chin Lim Award” de 2016 para a melhor dissertação em Planeamento Internacional) ao Ricardo Valente Cardoso (no meio na foto), onde se doutorou em Berkeley na área de Planeamento de Cidades e Regional (depois de ter cursado Engenharia Civil, opção de Planeamento na esteira do seu pai Abílio, na FEUP e de um mestrado na University College de Londres). Desde então, o Ricardo tem vindo a desempenhar funções docentes e de investigação no “Departamento de Análise Social e Cultural” da New York University – cito-o: “Na NYU, embarquei numa viagem através do Rio, de São Paulo e de Brasília para investigar políticas e práticas de disseminação do conhecimento e os movimentos associados de recursos, capital e poder conduzindo a Luanda. Num momento de novos nacionalismos e de limitadas imaginações, o objetivo deste projeto transoceânico é o de traçar os contornos sócio históricos e materiais dos atuais modos de urbanismo atlântico.” Ao que me chega, o Ricardo alcançou agora uma interessante posição de continuidade da sua carreira na longínqua delegação de Singapura da Universidade de Yale.
O primeiro jovem à esquerda, aliás o mais jovem dos três, é o Henrique Lopes Valença que foi o pretexto imediatamente mais próximo para este post. Economista da FEP, filho e neto dos Castro Lopes, o Henrique já deu as suas voltas formativas por Bruxelas (Parlamento Europeu) e Lisboa (Institute of Public Policy(IPP) Thomas Jefferson-Correia da Serra)e concluiu este ano a sua tese de mestrado na Universidade de Manchester (“Industrial policy and structural change in Brazil after the Washington Consensus (2003-2014)”), dissertação que acaba de ser vencedora ex-aequo do prémio anual da Development Studies Association britânica – ouçamos o júri, para além de ter sublinhado o excelente exemplo de desk-based research, a qualidade da escrita (sucinta e lúcida) e a riqueza da literatura de apoio: “Concordamos que esta era uma dissertação muito forte, cuja contribuição original reside na sua consideração de como o Brasil emergiu como uma alternativa à doutrina do Consenso de Washington.” Para o Henrique seguir-se-á agora um mais que promissor doutoramento em Sheffield.
O terceiro figurão é o João Lopes de Castro, filho do Alberto Castro, um dos meus amigos fepianos de mais longa data. Licenciado em Engenharia Eletrónica e de Computadores pela FEUP, mestre pelo Instituto Superior Técnico, PhD com distinção pelo MIT (“Engineering Systems”, 2010) – tendo-se centrado num tema de investigação na área da gestão e coordenação de grandes equipas no desenvolvimento de novos produtos e focado no modo como os participantes em projetos são capazes de identificar alvos de coordenação em equipas e estruturas de produtos (“métodos de desenvolvimento de produto”) –, o João esteve depois no “Center for Design Research” de Stanford e regressou a Portugal, onde tinha passado pela UMIC e foi uns anos responsável por um projeto de inovação disruptiva na Sumol-Compal (“sou um apaixonado sobre o modo como as pessoas percebem e usam produtos e sobre como podemos desenhar e desenvolver novas soluções que enriquecem e que permitem às pessoas fazer mais ou novas coisas”), sendo agora o responsável pelo “Center for Digital Business” da “Nova School of Business and Economics” e docente em Gestão da Inovação em vários programas de licenciatura e MBA.
Todos diferentes – e curiosamente cada um deles nascido numa década diferente do século passado, o João no final dos 70, o Ricardo no início dos 80 e o Henrique no início dos 90 – mas, em certo sentido, todos iguais. Escolhi estes três como símbolos da excelência da geração que se seguiu à minha, uma geração que soube explorar oportunidades e que assim importa valorizar e respeitar. De facto, eles são apenas aqueles que elegi por me estarem mais à mão, mas creiam que encontro cada vez mais filhos de amigos, colegas ou conhecidos que engrossariam meritoriamente o sentido deste meu texto (lembro-me, assim de repente e sem grande critério de nomeação, do Hugo Figueiredo, da Sofia Silva, do Tiago Ribeiro, do Pedro Bernardino, da Francisca Guedes de Oliveira, da Joana Cardoso e da Raquel Araújo, por exemplo e não optando por referenciar tantos mais que vêm fazendo notáveis carreiras profissionais externas). Concluo sublinhando que, sem deixar de amplamente valorizar o esforço e o resultado individualmente alcançado por cada um dos três eleitos – salvé aos três! –, pretendi também por esta via saudar o manifesto desabrochar daquela geração em termos qualitativamente inéditos a nível nacional e internacional como uma parte substancial do melhor que nos aconteceu desde as aberturas de 1974 e 1986, sem esquecer ainda o contributo (desigual e nem sempre constante e continuado) das políticas públicas nos domínios da Educação, do Ensino Superior e da Ciência – salvé Mariano Gago. Só assim se vai cumprindo a promessa de um País melhor...
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