(Conceitos mal dominados e medidos pelos economistas o que
aconselharia mais moderação na sua manipulação, atendendo sobretudo aos seus efeitos
sobre os cidadãos. À boleia de um texto de Jared Bernstein sobre
conceitos profusamente discutidos neste blogue.)
O
comportamento mais recente da economia americana tem sido analisado no pensamento
mais corrente, incluindo o da própria Reserva Federal, como estando em situação
de pleno emprego, com as consequências que daí derivam para a política económica
e monetária em particular. No momento particular de uma descida significativa
de impostos financiada pelo aumento do défice público e de algum incremento de
despesa pública, o pressuposto de que a economia estará em pleno emprego sugere
que o impacto do estímulo versará sobre o aumento de preços e de taxas de juro.
Correndo, por isso, o risco de que nem o investimento, nem o emprego, nem o salário
real possam aumentar.
Mas como
Bernstein alerta no Washington Post (link aqui), ninguém sabe ao certo que taxa de desemprego (a chamada
taxa natural de desemprego) corresponde ao putativo pleno emprego e muito menos
existe uma medida consensual do produto potencial da economia americana. Se a
economia americana estivesse de facto na sua taxa natural de desemprego (a mais
baixa taxa consistente com a estabilidade dos preços), então a taxa de inflação
deveria estar a reagir no sentido ascendente. O que não está a acontecer.
O que isto
quererá dizer é que há significativas margens de erro nos cálculos que as instituições
de referência realizam da taxa natural de desemprego e do nível de produto máximo
potencial da economia. O que é uma grande salsada. Mas o problema dos
americanos é dos americanos, aparentemente não nos diz respeito. O verdadeiro
problema é que a ortodoxia europeia baseou o cálculo do famigerado défice
estrutural em função do produto potencial da economia e até o levou ao nível de
tratado, nas barbas dos sociais-democratas que devem ter ouvido “estrutural” e achado
que era algo de científico. Por outras (tristes) palavras, um conceito
fundamental para a vida dos europeus, com consequências sérias sobre o seu nível
de bem-estar material, dado o seu impacto nas políticas restritivas, não é plenamente
conhecido pelos economistas que na prática o impuseram. Não são observáveis e o
seu cálculo respira margem elevada de erro por todos os poros. Brilhante … esta
ignorância escondida, nas nossas barbas.
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