(Um dado mensal, março, vale o que vale e não o devemos
confundir com uma tendência e uma nova realidade estrutural. Mas o facto de, pela
primeira vez, segundo a APREN e a ZERO, com base em dados da REN, a produção de
renováveis ter sido superior ao consumo de energia pode ser mais do que uma
evidência simbólica. Com resultados destes e o desemprego a descer
abaixo dos 8% e a aproximar-se de um desemprego natural “à portuguesa”, o tiro
ao arco da oposição exige uma maestria a toda a prova.)
Bem sei que a publicação dos dados da taxa de desemprego, com valores a caminhar
para os 7% e com perspetivas de ainda baixar mais apaga qualquer efeito de outra
medida positiva. Sei também que a política ambiental não é propriamente um mar
de rosas na governação sobretudo do ponto de vista de alguma
impunidade que assiste aos infratores da legislação ambiental, não sei ainda se
por falta de consciência ambiental da justiça portuguesa se por limitações de
legislação. Mas depois da chuva severa e copiosa ter praticamente tirado o
território continental da ameaça de seca para este verão, sem qualquer dança da
chuva ou prece aos deuses, a notícia de hoje de que o mês de Março revelou uma
produção de renováveis superior ao consumo energético do mesmo período é também
uma excelente notícia para a governação atual.
Creio que os
portugueses não têm ainda uma perceção rigorosa dos custos da energia renovável
e não é por sua culpa, mas antes de uma informação que deveria ser mais transparente
e comunicada para além da tecnicidade que o problema apresenta. Mas, pelo menos,
o cidadão normal saber que o esforço associado às renováveis e à sua subsidiação
consegue produzir resultados que simbolicamente asseguram a sustentabilidade do
consumo é já alguma coisa do ponto de vista do retorno dos apoios e do investimento
público na matéria. Mesmo que descontemos os custos de privatizações feitas a martelo
e com a corda do financiamento externo na garganta, sem qualquer quadro estratégico
a orientar as mesmas, que surgiu depois, o simbolismo do resultado é apreciável.
É também uma outra dimensão da descarbonização da economia, apontando a um outro
paradigma de emissão de gases com efeito de estufa. Isto não significa que a
pegada ecológica não deva ser calculada com mais rigor, incluindo as próprias
renováveis. Mas é uma boa base de partida, sobretudo se os números de março
revelarem algo de estrutural e não apenas determinado pela influência positiva
dos fatores naturais, chuva e vento.
Por este
andar e com resultados desta natureza, assistiremos cada vez a um histerismo
desesperado da oposição, como por exemplo no caso da penalização diplomática à
Rússia. O regime de Putin inspira-me temor mas a notícia da Sky News de que o laboratório britânico
que analisa as origens do gás em questão não o conseguiu associar à origem
russa vai ao encontro da minha máxima: com estas figuras da cena internacional
de hoje, diplomacia com cautela e caldo de galinha é uma posição sensata.
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