quarta-feira, 4 de abril de 2018

NÓS VISTOS DE FORA



A OCDE divulgou há dias o seu relatório “How’s Life? Measuring Well-Being” de 2017, uma interessante publicação cuja periodicidade remonta a cada dois anos e cujo fundamento assenta numa tentativa cada vez mais clara dos economistas daquela instituição de trabalharem indicadores menos tradicionais dos níveis de desenvolvimento de países, regiões ou cidades através do cálculo de medidas alternativas centradas em dimensões de bem-estar e de progresso (veja-se a descrição básica do respetivo framework no quadro imediatamente acima). Não sendo este, obviamente, o lugar para uma análise muito detalhada, e muito menos de natureza crítica, do referido estudo, quero apenas aqui reportar a sua existência a eventuais interessados e, de passagem, dar conta do modo como o nosso país surge descrito no contexto do mesmo.

Cito, com remissão para os gráficos mais abaixo: “Em relação a outros países da OCDE, Portugal apresenta um desempenho misto nas diferentes dimensões do bem-estar. Por exemplo, ocupa o terço inferior da OCDE em termos de rendimento disponível líquido, de remunerações médias e de desemprego de longo prazo, apoios sociais e satisfação perante a vida. Por outro lado, enquanto quer a acessibilidade à habitação quer o número médio de quartos por pessoa estão abaixo da média da OCDE, apenas 1% dos portugueses ainda vive em casas sem saneamento básico, comparativamente a uma média de 2,2% da OCDE. A esperança de vida à nascença é um ano mais elevada do que a média da OCDE e Portugal posiciona-se relativamente bem em termos de qualidade ambiental e segurança pessoal, onde se situa acima da média da OCDE em todos os indicadores disponíveis. Em termos de educação e competências, o desempenho do país é misto: enquanto apenas 47% dos adultos em idade ativa possuem pelo menos o ensino secundário, uma das mais baixas percentagens da OCDE, as competências cognitivas dos estudantes de 15 anos estão acima do nível médio da OCDE.”




O conjunto de dados e considerações que precedem estão longe de esgotar a potencial riqueza analítica decorrente do trabalho em apreço. Limito-me, todavia, a mais dois apontamentos relevantes: os recursos detidos pelo país e os riscos que correspondentemente transportam para o seu bem-estar futuro (vejam-se, no quadro imediatamente acima, alguns indicadores ilustrativos por ordem decrescente de dotação – capital natural, capital humano, capital económico e capital social) e as nossas desigualdades comparativas em termos de bem-estar e nos planos vertical, horizontal ou de privação (vejam-se, no quadro seguinte, as principais cores a título indicativo). Focando apenas este último plano, como mero exemplo, sublinhe-se a presença de maior privação em 8 dos 18 indicadores disponíveis, da baixa satisfação perante a vida (24%) ao emprego e rendimento, à saúde percebida, à participação eleitoral ou aos resultados educativos. Enfim, tudo visto e ponderado, material útil e a merecer melhor consulta e devido e subsequente aprofundamento.

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