De uma Espanha em luta e desesperadamente fechada sobre si própria chegou-nos hoje a bombástica notícia do repúdio pelo rei da herança do pai, assim ficando indiciada a veracidade da acusação de corrupção que circulava em relação ao rei emérito na sequência de uma investigação pelas autoridades fiscais suíças de uma eventual comissão de 100 milhões de dólares por ele recebida aquando do negócio de adjudicação da alta velocidade para Meca, ainda com a agravante de uma parte daquela quantia ter sido alegadamente doada a uma amiga extramatrimonial (Corinna zu Sayn-Wittgenstein). Um escândalo que arrasa definitivamente o bom nome de Juan Carlos I.
(José Maria Pérez González – “Peridis”, http://elpais.com)
Dias antes, chegara-nos da Rússia a expressão da ambição sem limites do presidente Putin, agora promovendo uma mudança constitucional que teoricamente lhe permitirá uma permanência no poder até 2036, i.e., até aos 84 anos. Putin já gozou de dois mandatos sucessivos de oito anos cada, entremeados com quatro anos no lugar de primeiro-ministro e a somar aos quase dois anos na chefia do governo com que abriu a sua ocupação pessoal do poder em meados de 1999. Aritmética à parte, e considerando as sucessivas derivas autoritárias e o oportunismo expansionista e sem escrúpulos da sua política externa, estaremos certamente perante um dos principais perigos com que se irá deparar a ordem internacional que há de vir.
(Emilio Giannelli, http://www.corriere.it)
O terceiro facto que aqui trago é o da gafe de Christine Lagarde em plena crise do coronavírus. A sua afirmação de que we are not here to close spreads, em plena pressão a ser exercida pelos mercados sobre o prémio da dívida italiana, deixou claramente evidenciada a sua insensibilidade e/ou impreparação para liderar o BCE, o que ficou patente no modo imediato como os juros da dívida italiana (e também da portuguesa) se ressentiram da sua imprudência (sete décimas de disparo no caso italiano para o prazo de dez anos). Resta acrescentar que a declaração de Lagarde foi acompanhada de apelos imprevidentes no sentido de que sejam os governos a colocarem-se na primeira linha do combate aos impactos devastadores da pandemia (sublinhe-se a reação de pânico que se lhe seguiu nas bolsas), ademais quando tudo isto se seguiu ao dececionante primeiro pacote de estímulo à política monetária europeia que apresentara no início do mês (apesar de ter falado de um envelope de mais 120 mil milhões de euros em compras de ativos até final do ano e de algumas linhas de financiamento à banca, esperava-se uma maior criatividade adaptativa em relação ao esgotado leque de medidas de política monetária que vinha sendo praticado desde Draghi e tal logo se repercutiu nas previsões especializadas sobre o crescimento económico da Zona Euro). Espero enganar-me mas o meu feeling é que esta senhora não está em condições de nos dar grandes garantias de competência e comando para enfrentarmos o dificílimo período da economia europeia e mundial que se avizinha.
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