(O governo regional galego antecipou, em alinhamento com
decisão similar do governo basco, as suas eleições regionais para o próximo mês
de abril. Tenho dúvidas que Nuñez Feijoo tenha compreendido plenamente
a importância crucial que as eleições regionais galegas irão assumir no
contexto político espanhol. Procurarei explicar porquê.)
Estou decididamente
entre os que manifestou total estranheza pelo facto de Nuñez Feijoo não se ter
perfilado no PP à sucessão do seu amigo e próximo Mariano Rajoy. Depois do afastamento
da vida política de Soraya Sáenz de Santamaría para a quietude bem remunerada
de um dos mais importantes escritórios de advogados de Madrid, Feijoo era
claramente a personalidade mais consistente, independentemente dos créditos da
sua governação na Galiza. Em comparação com Pablo Casado, que viria a assumir a
presidência do PP à sombra do bigodinho irritante de Aznar, Feijoo tem uma
importante superioridade. É novo como Casado e também como o já afastado Rivera
do CIUDADANOS, tem a mesma auréola de perfil técnico, mas tem uma envergadura
de personalidade bem mais consistente do que a dos noviços Casado e Rivera, o
segundo dos quais se estatelou politicamente em função desse traço de
inexperiência.
Não vou especular
sobre as razões que terão levado Feijoo a afastar-se da luta pela sucessão de
Rajoy, mas não duvido que alguma jogada mais sub-reptícia interior ao próprio
PP tenha estado na origem de tão estranho afastamento. O que interessa é que
desde essa decisão, o presidente Feijoo tem feito uma defesa reiterada e
incisiva do seu amor à Galiza, não hesitando mesmo em colocar a lealdade
regional bem acima da que poderá sentir pelo seu partido.
Mesmo depois da
aguerrida Ines Arrimadas, líder atual do CIUDADANOS, lhe ter proposto uma aliança
que envolvia as eleições na Galiza, País Basco e Catalunha, que recusou, Feijoo
tem prosseguido na sua senda de defesa da liderança regional, o que não deixa
de ser surpreendente quando um líder de alcance nacional prefere o campo
regional para ir à luta. Claro que a baixíssima incidência do VOX na Galiza
(não deixa de ser também curiosa a acusação do VOX de que Feijoo nutre pelo
nacionalismo uma grande afeição) e a total incapacidade do CIUDADANOS penetrar
na região são créditos a favor do perfil democrático de Feijoo. Ou seja, o
eleitorado galego do PP parece não evidenciar qualquer revanchismo fascizante e
não parece também ser seduzido pela pretensa modernidade do CIUDADANOS. Tudo
isso é obra do projeto Feijoo para a Galiza.
Porquê então a minha
tese de que as eleições galegas de abril próximo representarão algo de
importante e crucial no atual contexto político espanhol?
As sondagens
disponíveis sobre as eleições de abril têm oscilado entre a garantia da maioria
absoluta para Feijoo e o ter essa maioria presa por um fio. Tudo isso, porque
em choque frontal com a hipótese de mais uma maioria absoluta, está a aliança
de esquerda em formação na Galiza com o PSOE galego (a crescer), o Bloco
Nacionalista Galego em franca recuperação com a sua líder Ana Belén Pontón e uma
aliança de forças mais à esquerda com resquícios PODEMOS, já que a aliança
apoiada pelo velho Beires (ANOVA) está em franca dissolução, bem como parte do
movimento Mareas. Fazendo o cotejo do que está em jogo na Galiza temos um claro
confronto entre duas ideias de governo: a que está em curso de ser implementada
em Madrid sob a batuta de Pedro Sánchez e o apoio de Pablo Iglésias, instável e
de navegação bem à vista em função do estado do mar e uma alternativa de
direita que não emergiu em Madrid e que Feijoo personaliza só com o PP não
necessitando de muletas. Se Feijoo mantiver a sua maioria absoluta mais órfã fica
a direita em Madrid. Se eventualmente a perder e se a margem de vitória não for
flagrante então a fórmula atual do governo em Madrid é reforçada.
Por isso, as eleições
são tão importantes.
(Correção do nome da líder do Bloco Nacionalista Galego, Ana Pontón, em 07.03.2020)
(Correção do nome da líder do Bloco Nacionalista Galego, Ana Pontón, em 07.03.2020)
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